Tecnologia analisa a qualidade do leite em apenas 25 segundos

2 de maio de 2023

Uma tecnologia desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com apoio da iniciativa privada é capaz de identificar em apenas 25 segundos as condições de qualidade do leite cru ainda no local de produção.

De acordo com os pesquisadores da estatal, esta pode ser uma solução eficaz para reduzir prejuízos dos pecuaristas de todo o país.

O SondaLeite é um sistema portátil que usa feixes de luz para fazer a classificação quase instantânea do produto. A tecnologia consegue identificar o chamado Lina (leite instável não ácido), uma alteração na qualidade do leite cuja detecção ainda é um desafio nos métodos convencionais.

O teste de qualidade do leite é uma exigência do Ministério da Agricultura e Pecuária para avaliar a acidez e estabilidade do produto no momento de captação nas propriedades rurais.

Os resultados atuais, no entanto, obtidos a partir da submissão do produto ao álcool, ainda geram incertezas, pois podem ter interferências e falhas humanas, diz a Embrapa. O método é utilizado há mais de 100 anos.

Com isso, parte da produção leiteira atualmente é descartada, diz a Embrapa, o que gera perda de renda na cadeia leiteira e passivos ambientais.

“A pretensão é que o SondaLeite consiga diferenciar o Lina, o leite normal e o leite ácido. Assim, pode-se oferecer uma nova forma de avaliação da qualidade do produto nas unidades de produção de leite, evitando a condenação do Lina”, diz em nota a médica veterinária e pesquisadora Maira Balbinoti Zanela, da Embrapa Clima Temperado.

Segundo ela, a possibilidade de diagnóstico equivocado com teste do álcool faz com que o produtor tenha perda de renda, a indústria receba volume menor de leite e o consumidor tenha menos oferta.

Aproveitamento

Parte desse leite que hoje é descartado pode ser utilizado. Zanela lembra que o Lina pode ser pasteurizado (processo que dá garantia de segurança alimentar) e transformado em queijo, iogurte, bebida láctea, requeijão, entre outros.

A detecção rápida do Lina é uma carência do mercado. O SondaLeite ainda está em fase experimental e aguarda parceiros para licenciamento e comercialização. A patente foi registrada em 2021.

A Embrapa diz que o sistema digital permite acesso aos dados da análise de forma remota via conexão de rede sem fio e poderá ser utilizado diretamente no campo, acoplado em caminhões de coleta a granel e também em laboratórios ou tanques de resfriamento de laticínios e cooperativas leiteiras.

Além de monitorar a qualidade do leite, o SondaLeite pode ser incrementado para outras funções, como a detecção de mastite e adulterações.

Como funciona

O pesquisador da Embrapa Washington Luiz de Barros Melo explica que, para eliminar a interferência humana no processo de análise da acidez do leite cru, o instrumento espectroscópico computadorizado associado a um método estatístico de análise fará o serviço.

A sonda avalia as amostras líquidas por meio de uso da luz emitida e captada, por componentes semicondutores que fazem parte do sistema sensor. O aparelho é composto por câmera de medição, sistema óptico com Diodo Emissor de Luz (LED, na sigla em inglês) e computador embarcado. A tecnologia pode ser operada por qualquer sistema operacional de computador, celular ou tablet.

Uma amostra de 100 ml de leite dentro do equipamento recebe luzes em diferentes comprimentos de onda, que incluem infravermelho próximo (NIR), passando pelo o visível (Vis) até o ultravioleta próximo (UVA).

“Ao incidir sobre o leite, partes destas luzes são absorvidas e partes refletidas. As luzes refletidas são detectadas e convertidas em sinais elétricos que são armazenados na memória do computador embarcado no SondaLeite. Estes dados coletados formam o espectro do leite, que é submetido à análise estatística. O resultado indica, então, a condição de estabilidade do leite”, conta o pesquisador, em nota.

Foto: JM Alvarenga

 

Fonte: Globo Rural