Oferta aumenta e preços de produtos agropecuários caem no final de 2022

5 de dezembro de 2022

Após forte movimento de alta registrado desde 2020, os preços das principais commodities agrícolas produzidas pelo Brasil têm apresentado desaceleração na reta final deste ano, com tendência de desvalorização, diante das perspectivas de maior oferta e menor demanda internacional em 2023. É o que aponta uma análise divulgada nesta sexta-feira (02/12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)

As instituições avaliam que a maior disponibilidade de produtos como soja, milho, algodão e café tem contribuído para recomposição dos estoques de passagem que vinham caindo desde o início das políticas de isolamento social estabelecidas devido à pandemia.

No cenário internacional, o documento cita ainda o impacto da demanda chinesa sobre o mercado de carnes (sobretudo suína), a crise energética na Europa (segundo principal destino das exportações agropecuárias brasileiras ) e a manutenção do corredor de trânsito de grãos por três portos ucranianos no Mar Negro por mais 120 dias.

“Apesar de os níveis de embarque estarem muito aquém dos observados antes do conflito, o acordo diminui as incertezas na cadeia de diversos produtos e tem sido visto como uma solução intermediária entre o comércio desses dois países com o resto do mundo” explica o documento.

A Ucrânia é um importante produtor de grãos, o que deu impulso às cotações internacionais desde o início dos conflitos com a Rússia, outro grande player internacional nesse mercado.

Grãos e café

No caso da soja, principal produto agropecuário exportado pelo Brasil, os pesquisadores explicam que “entre o segundo e o terceiro trimestres de 2022, a desvalorização do petróleo e a expectativa de uma possível recessão mundial reduziram a demanda internacional pela oleaginosa brasileira e pressionaram parcialmente os preços da soja para baixo”.

Após alta de 11,8% de janeiro a outubro ante igual período do ano passado, o indicador Cepea/Esalq para a oleaginosa registrou queda de 2,3% entre o segundo e o terceiro trimestre. “Para a safra 2022-2023, a Conab estima aumento de área, com produção de 153,54 milhões de toneladas de soja. A instituição também estima aumento no esmagamento do produto para a produção de farelo e óleo de soja em 2023 (…). Se a estimativa for mantida, haverá recuperação dos estoques finais, o que poderá contribuir para a estabilidade dos preços tanto domésticos quanto internacionais, já que o Brasil é o principal produtor e exportador do grão”, explica a Carta de Conjuntura divulgada pelo Ipea.

O cenário é semelhante para o milho, cujos preços atingiram a máxima histórica no primeiro trimestre deste ano. Segundo o último relatório do USDA, na safra 2021/2022, a oferta mundial registrou crescimento de 7,8%, com o Brasil alcançando alta de 33,3% – a maior em nove anos.

“Acredita-se que o aumento da produção brasileira, alinhado à maior demanda internacional, inclusive da China, deverá promover uma elevação de 16,9% das exportações do grão em 2023. Com isso, o estoque de passagem do milho ao fim da safra 2022-2023 (em fevereiro de 2024) deverá ser de 9,8 milhões de toneladas, aumento de 28,2%, comparando-se à safra 2021-2022, indicando a recomposição da disponibilidade do cereal no mercado doméstico”, pontua o Ipea.

As perspectivas também são de recuperação da produção de trigo, com previsão de safra recorde tanto no Brasil quanto em escala global. No entanto, o volume ainda deve ser inferior à demanda, o que tende a pressionar os estoques mundiais pelo terceiro ano e uma relação entre estoque final e consumo de 34,1% – a menor em oito anos.

“Dessa forma, alguns riscos permanecem, uma vez que o aumento da oferta depende do desempenho de alguns países, o que justifica a cautela refletida na suave trajetória de alta do preço internacional a partir de agosto deste ano”, pontua o documento.

Para o algodão, a avaliação também é de valorização da commodity no mercado interno uma vez que os cotonicultores brasileiros já estão com boa parte da safra 2021/2022 já vendida e seguem disponibilizando lotes apenas quando há necessidade de caixa ou quando acham atrativo.

“Os volumes de algodão que estão em posse das tradings devem acompanhar o movimento dos preços internacionais, já que elas pretendem direcionar a pluma para o mercado internacional ou comercializar internamente por preços com patamares semelhantes. Além disso, as indústrias podem entrar comprando novos lotes nestes últimos meses do ano, visando garantir parte da matéria-prima para os próximos meses. Dessa forma, os preços para a pluma de qualidade superior deverão ser acima dos pagos atualmente”, destaca a análise.

Já o café, que chegou a superar R$ 1 mil por saca de 60 kg no final de outubro pela primeira vez desde agosto de 2021, segundo o indicador Cepea/Esalq para o arábica, tem perspectiva de manter-se pressionado nos próximos meses. Segundo o Ipea, as chuvas em regiões produtoras brasileiras desde setembro induziram boas floradas e a expectativa é de crescimento na produção do país mesmo com a ocorrência de granizo em importantes praças de arábica nas últimas semanas.

“A projeção do USDA para a produção mundial é de recuperação parcial da oferta global na safra 2022-2023, em parte devido às expectativas positivas para o Brasil, maior produtor mundial, que terá um ano de bienalidade positiva. Projeta-se uma elevação de 0,7% na oferta global e de 2,8% nas exportações brasileiras – as adversidades climáticas ocorridas recentemente em algumas áreas produtoras do Brasil não mudaram até o momento a projeção da produção para o próximo ano”, completa o Ipea.

Carnes

No mercado de proteína animal, destaque para as exportações aquecidas, mas um mercado interno ainda enfraquecido no caso da carne bovina. “A população brasileira tem buscado proteínas com preços mais competitivos, como as carnes suína e de frango e os ovos, o que direcionou os produtores de carne bovina a focarem mais o mercado internacional. Em outubro, especificamente, a maior oferta de animais de confinamento, associada ao preenchimento das escalas de abate, reforçou a pressão negativa sobre os preços da arroba de boi, que voltou a operar na casa dos R$ 280,00”, pontuam os pesquisadores.

A previsão também é de queda para a carne suína, cujo preço médio de comercialização da no atacado até outubro de 2022 seguia inferior ao registrado no mesmo período de 2021 o devido ao aumento da oferta de animais para abate e à redução das exportações no acumulado do ano.

“Com efeito, o preço do suíno já se encontra 22,4% inferior à máxima alcançada em julho deste ano. No entanto, ele se mantém 8,6% acima do registrado em outubro de 2021, em parte devido à alta de preços de outras proteínas animais, como a carne bovina”, explica o Ipea, ao apontar estabilização dos preços no curto prazo diante da alta sazonal da demanda por cartes suínos no país e da maior competitividade da carne suína diante das concorrentes bovina e de frango.

No caso do frango, o Ipea ressalta que a perspectiva de recessão mundial, associada com a concorrência de outras proteínas animais manteve a cotação em alta até o segundo semestre, mas com registro de estabilização e ligeira queda desde então.

“Os preços domésticos da carne de frango tendem a cair no quarto trimestre de 2022. Isso porque a demanda pelo produto no Brasil, sobretudo em dezembro, costuma ser menor, devido ao aumento da concorrência com outras proteínas mais tradicionais consumidas entre o Natal e o ano-novo. No cenário internacional, a alta nos custos de produção deve manter os preços até o final do ano acima dos observados em 2021”, concluem os pesquisadores do Ipea e do Cepea.

Foto:Wenderson Araujo/Trilux/CNA

 

Fonte: Globo Rural