Em coletiva de imprensa, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), em nome de seus associados, reforçou o posicionamento contra a liberação de importação do cereal geneticamente modificado da Argentina.
“Nossa preocupação é pelas incertezas regulatórias, comerciais, e de saúde que podem significar uma eventual entrada do trigo transgênico no Brasil”, disse o embaixador Rubens Barbosa, presidente executivo da Associação. Segundo ele, toda a cadeia do trigo compartilha da posição contrário ao cereal transgênico.
O Brasil importa cerca de 60% do trigo que consome, com a maior parte proveniente da Argentina, único país que liberou o plantio de trigo modificado. Claudio Zanão, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), também disse ser contra liberar o cereal modificado.
“A produtividade não vai aumentar, a segurança alimentar ao consumidor também não vai aumentar. Se nenhum país aprovou até hoje, por que nós vamos ser cobaias? Não há necessidade”, disse ele.
Segundo Zanão, o Brasil é o terceiro maior mercado do mundo no consumo de massas e biscoitos e o sétimo em pães industrializados. “Se isso acontecer, provavelmente nós vamos ser barrados em muitos países”, completa.
Paulo Menegueli, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), também presente na coletiva, também reforçou o coro. “A gente pode garantir que se isso avançar, o setor de panificação não comprará trigo vindo da Argentina. Nós vamos radicalizar, não queremos correr risco de perda de mercado, então buscaremos outros mercados”.
O pedido e a decisão
No início de setembro, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) adiou para outubro o parecer sobre a liberação comercial no Brasil do trigo geneticamente modificado produzido na Argentina. A Comissão está avaliando informações que haviam sido pedidas à companhia solicitante, Tropical Melhoramento & Genética (TMG), que protocolou o pedido de importação e comercialização feito pela empresa argentina de biotecnologia Bioceres.
“O Governo argentino decretou que a autorização para a comercialização do trigo na Argentina dependia de uma aprovação prévia do governo brasileiro, porque nós somos o principal mercado e eles não queriam começar a produzir sem ter como exportar. Estamos aguardando a manifestação da CTNBio”, explicou o presidente da Abitrigo.
A indústria brasileira de trigo já está preparada para contestar uma eventual aprovação da CTNBio. Rubens Barbosa disse que 90 dias após a decisão, uma reunião do Conselho Nacional de Biossegurança pode ser convocada para examinar a conveniência e a oportunidade do decreto final. “Seguramente, a depender da decisão, essa medida será tomada pela Abitrigo e pelas outras associações”, afirmou.
Foto: Acervo/Ed. Globo
Fonte: Globo Rural