Desvalorização de preços da carne bovina traz negatividade ao ano, mesmo com bom volume de exportação

21 de setembro de 2023

Em 2023, a carne bovina vem passando por uma desvalorização nos seus preços, pontuou o analista da Consultoria SAFRAS & Mercado, Fernando Iglesias, em apresentação nesta quarta-feira, durante a sexta edição da SAFRAS Agri Week.

Para compensar, o analista explica que os chineses estão adquirindo o produto brasileiro com preços reduzido em dólar. “Para terem ideia do preço pago pelos importadores da China, ano passado eram pagos US$ 7.500 por tonelada, enquanto em 2023 é pago um valor entre US$ 4.000 e US$ 4.500 por tonelada”.

No mercado doméstico, Iglesias destaca que, em setembro, há um movimento de recuperação no mercado do boi gordo. “Os frigoríficos estão operando com escalas mais curtas, entre 4 e 5 dias úteis. Isso obriga a indústria a atuar de maneira agressiva na compra de gado, a fim de conseguir uma folga entre as escalas”, diz. “A oferta enxugou bem, principalmente na região Norte, impactando na formação de preço doméstica”, ressalta.

“Há uma boa expectativa de demanda para o último trimestre de 2023, pensando na entrada do 13o salário, bonificações costumeiras da época e postos temporários de emprego. Isso deve levar nossa demanda doméstica ao auge”, destaca o analista. “Os preços da carne bovina caíram, fazendo com que o consumidor brasileiro aumentasse sua demanda. A exceção segue sendo entre famílias que possuem entre um e dois salários-mínimos, onde a carne de frango é mais atrativa”, complementa.

Retornando ao tópico da China, Iglesias diz que a recuperação econômica do país é fundamental para a formação de preços no mercado internacional e, por consequência, da arroba do boi gordo em 2024. “Se as medidas chinesas para recuperação da economia surtirem efeito, isso seria muito benéfico para o mercado brasileiro”, pontua.

No que tange a nutrição animal, o analista destacou o sorgo como uma alternativa em relação ao milho. “O sorgo tem um preço bem mais baixo. Em Minas Gerais, por exemplo, a saca de milho está sendo negociada a R$ 50,00 cada, enquanto a saca do sorgo está entre R$ 35,00 e R$ 37,00”, diz. Iglesias ainda lembra que a produção deste cereal no Brasil teve um crescimento de quase um milhão de toneladas neste ano.

“2023 é um ano de grande descarte de matrizes, trazendo consequências em curto, médio e longo prazo. No curto prazo, este descarte é o principal motivo para a queda nos preços, já que há maior oferta de animais no mercado”, explica Iglesias.

Nas exportações, o analista ressalta que o grande problema deste ano não se trata sobre o volume de exportação. “Evidente que o período entre março e abril impactou de maneira bastante negativa, diante do embargo chinês. Contudo, o problema está nos preços, que estão baixos”, afirma.

Além disso, como demais principais pontos de atenção no mercado internacional, Iglesias listou da seguinte maneira:

– Estados Unidos apresenta graves dificuldades em seu rebanho, se consolidando como segundo grande importador da carne bovina brasileira;

– Argentina vive momento caótico durante período eleitoral, em adição do clima durante anos de La Niña sendo hostil com mercado local;

– Consolidação da Austrália como grande concorrente do Brasil, em um momento de rápida recomposição de seu plantel;

– Brasil segue como melhor alternativa de fornecimento global de carne bovina.

Foto: Freepik

 

Fonte: Safras e Mercado