Brasil deve plantar menos feijão e preço pode voltar a subir

29 de setembro de 2022

O Brasil deve plantar menos feijão na safra 2022/2023 e os preços podem voltar a subir nas gôndolas dos supermercados, revertendo a baixa recente de um dos principais produtos da cesta básica do brasileiro. A avaliação é do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), entidade que reúne os diversos elos da cadeia produtiva.

“Há tempos não temos excedentes. Todo feijão carioca colhido é imediatamente consumido. Abriremos o ano com redução de 13% no Paraná. O que significa que não haverá recuos significativos de preço no momento da colheita em janeiro e fevereiro”, afirma o presidente do Ibrafe, Marcelo Luders, em comunicado.

Indicadores de inflação têm mostrado baixa no preço do produto ao consumidor. No IPCA-15, prévia da inflação de setembro, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o feijão carioca teve queda de 6,54% na média nacional entre agosto e setembro. O feijão preto caiu 2,9%.

No IPCA consolidado do mês de agosto, divulgado no início deste mês, o preço do feijão carioca já havia apresentado queda de 5,39% na média nacional. O feijão preto teve registrado baixa de 3,07%, de acordo com os dados do IBGE. No acumulado do ano, no entanto, o carioca tem alta de 31,11% e o preto tem queda de 6,77%.

O Brasil planta por ano-safra, três ciclos de feijão em diferentes períodos e regiões do país. A Companhia Nacional de Abastecimento deve divulgado o primeiro levantamento mensal da safra de grãos 2022/2023 no dia 6 de outubro. No final de agosto, no entanto, a Conab divulgou suas primeiras projeções oficiais para o ciclo que está em fase inicial de plantio.

A área plantada de feijão, somando os três ciclos anuais da cultura nas variedades cores (que inclui o feijão carioca, caupi e preto) é projetada em 2,823 milhões de hectares. No primeiro, os produtores devem plantar 881,3 mil hectares (-2,5%); no segundo, 1,405 milhão (-0,4%); e no terceiro, 537,1 mil hectares (-0,5%).

A produção de feijão para a safra 2022/2023 é projetada em 3,006 milhões de toneladas, sendo 968,3 mil no primeiro ciclo (+3,1%), 1,296 milhão de toneladas no segundo (-4,6%) e 741 mil toneladas no terceiro ciclo (-1%).

Na safra 2021/2022, os agricultores plantaram 2,854 milhões de hectares, uma baixa de 2,4% em relação ao ano anterior. E a produção, de acordo com a estimativas da Conab, foi de 2,997 milhões de toneladas.

Para a Companhia Nacional de Abastecimento, os volumes atuais atendem o abastecimento do Brasil. O quadro de oferta e demanda de feijão projetado pela Conab aponta um consumo total de 2,850 milhões de toneladas, estável em relação à temporada passada. Com o país começando a safra atual com estoques estimados em 264,3 mil toneladas, deve terminar com 371,1 mil.

De qualquer forma, para o Ibrafe, o cenário atual do feijão é preocupante. Em seu comunicado, o presidente do Instituto, Marcelo Lüders, alerta que a temporada 2022/2023 deve ter a menor área plantada dos últimos 30 anos e a produtividade atual da cultura não está conseguindo compensar a diminuição do plantio.

Concorrência

De acordo com o Ibrafe, o cultivo de feijão vem perdendo área para outras culturas, especialmente milho e soja. Marcelo Luders ressalta que a cultura é uma das que tem a maior redução de área estimada para a próxima década, com um plantio 1,048 milhão de hectares menor que nos dias atuais.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) sinalizou preocupação semelhante nesta semana. Em reunião da Comissão de Cereais Fibras e Oleaginosas, nesta semana, a CNA avaliou que a área e a produção devem cair na safra 2022/2023, ainda que a colheita possa ser suficiente para o abastecimento interno.

“Segundo ele, a produção total também deve sofrer uma retração, alcançando pouco mais de 3 milhões de toneladas, mas ainda suficiente para o abastecimento interno. A perspectiva apresentada é sustentada em fatores como maior perda de área para as lavouras de soja e milho, adversidades climáticas e crise hídrica, visto que a 3ª safra depende de irrigação”, ressaltou a CNA, em nota.

Além da perda de espaço no campo, faltam estoques, avalia o presidente do Ibrafe. Segundo Marcelo Luders, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) recomenda que um país tenha armazenados produtos básicos para pelo menos três meses de consumo. O que não ocorre no Brasil.

“Conforme informações da Conab, os estoques públicos de feijão no país foram reduzidos consideravelmente em 2016 e estão completamente zerados desde 2017. Produção deficitária e falta de estoques públicos fazem com que o país dependa cada vez mais das importações”, diz ele.

Ao produtor, o preço do feijão carioca vem demonstrando comportamentos distintos, a depender da região, de acordo com os indicadores da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM). No oeste da Bahia, os últimos 30 dias têm sido de estabilidade, com a saca de 60 quilos negociada, em média, a R$ 275 no mercado físico disponível. Na região de Paracatu e Unaí, em Minas Gerais, queda de 8,13% no período, com a saca cotada a R$ 282,50. Em Cristalina (GO), alta de 1,92%, com a saca valendo R$ 265.

O feijão preto, também no mercado disponível, com base em Paranaguá (PR), apresenta estabilidade nos últimos 30 dias, com a saca de 60 quilos cotada a R$ 300 no mercado físico disponível.

Foto: Ernesto de Souza/ Ed. Globo

 

Fonte: Globo Rural