Soja do Brasil pode ter maior demanda com tensão entre EUA e China

8 de agosto de 2022

O mercado internacional da soja vem olhando de perto o clima nas regiões de produção americanas, com a safra ainda em desenvolvimento. E o recente aumento da tensão política entre Estados Unidos e China é mais um ponto de atenção, à medida que traz incertezas sobre o comércio entre as duas maiores economias do mundo. Neste cenário, consultores já veem maior demanda chinesa por soja brasileira, o que tende a refletir em prêmios maiores de exportação.

“Não acreditamos em um conflito militar, mas uma batalha comercial (entre EUA e China) pode ser intensificada. O grande medo do mercado é esse. E deve ser um direcionador de preços nas próximas semanas”, avalia Matheus Pereira, diretor da PÁTRIA AgroNegócios.

O mercado climático ainda dominou as ações dos operadores na bolsa de Chicago (EUA).  Os contratos de soja chegaram a ter quedas acentuadas no início da sessão, com os mapas climáticos mostrando maior possibilidade de chuva no cinturão de produção nos Estados Unidos.

No decorrer do dia, à medida que as previsões meteorológicas eram atualizadas, as perdas foram reduzidas, mas não o suficiente para o ajuste da sessão ficar positivo em relação ao dia anterior. O contrato de soja para novembro, o mais negociado, chegou a ser cotado a US$ 13,92, mas acabou encerrando o dia a US$ 14,08 por bushel.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos deve atualizar as condições das lavouras de grãos nos Estados produtores. O USDA indicou uma leve melhora nas áreas de soja. As classificadas de boas a excelentes passaram de 59% para 60%. As regulares caíram de 30% para 29% e as ruins e muito ruins ficaram em 11%.

“O mês de agosto é crucial para a formação do teto produtivo da soja nos Estados Unidos. É quando a soja transita do estado vegetativo para o reprodutivo. E o clima é fator importante”, lembra Pereira.

Enquanto isso, no campo geopolítico, os governos dos Estados Unidos e da China mantêm o clima tenso, agravado com a visita da presidente da Câmara dos Representantes americana, Nanci Pelosi, a Taiwan, o que para o governo chinês foi considerado uma afronta. Há dias, a China realiza exercícios militares próximos ao território, como têm noticiados agências internacionais.

Pelo menos até o final da semana passada, a expectativa de retaliação comercial parecia não ter se confirmado. O USDA reportou ter recebido a informação de venda de 132 mil toneladas de soja para o país asiático, uma demanda que, se mantida, tende a dar suporte às cotações.

Mas há sinais de mudança, afirma o diretor da PÁTRIA AgroNegócios, Matheus Pereira. “O mercado já está entendendo que, caso piore a relação com os chineses, haverá uma concentração de demanda para a soja brasileira”, destaca o consultor. “Caso se intensifique, haverá, elevação de prêmio e dos preços físicos da soja em reais pode saca”, acrescenta.

Nos Estados Unidos, onde integra uma missão de produtoras rurais brasileiras, a consultora de commodities agrícolas Andrea Cordeiro faz avaliação semelhante. Segundo ela, há uma preocupação entre analistas e agricultores, de um acirramento da guerra comercial entre americanos e chineses.

“Uma situação política crescente e preocupante está deixando todo mundo atento ao que acontece”, diz ela. Andrea reforça que o produtor de soja norte-americano está em um momento de definição de sua safra. E, além de torcer para que o clima favoreça as produtividades, espera que esse novo conflito entre as duas maiores economias do mundo se resolva rapidamente.

“Eles estão sentindo esse momento, essa grande preocupação”, resume. “A China se posicionou pedindo ofertas no Brasil e para a Argentina. Com isso, os prêmios brasileiros se valorizaram, tanto no spot quanto para os embarques seguintes”, analisa a consultora.

Especialista em agronegócios, com ênfase em gestão de riscos, Roberta Paffaro, lembra que China e Estados Unidos estão em conflito desde o governo Donald Trump, quando foi aberta a guerra comercial. E, em um cenário global que já vive um conflito militar – entre Rússia e Ucrânia – com efeitos sobre o comércio agrícola, o mercado precifica o acirramento da crise.

“É importante apontar que qualquer tensão política, comercial e macroeconômica pode afetar as relações comerciais. O mercado reage com volatilidade e precifica essa movimentação. Por isso é importante estar atento as ferramentas de gestão de riscos de preço”, resume.

Foto: REUTERS/Paulo Whitaker/File Photo

 

Fonte: Globo Rural