Seca provoca quebra de 27% na produção de noz-pecã no RS

5 de julho de 2022

A seca que atingiu as plantações de soja e milho no Rio Grande do Sul também abalou a crescente produção de noz-pecã, resultando em uma quebra estimada de pelo menos 27% este ano. A colheita que vai de abril a junho era estimada em 6,760 mil toneladas, mas deve fechar abaixo de 4 mil toneladas. Os números estão sendo revisados pela Emater e o Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPcan), que reúne produtores, agroindústrias e viveiros. No ano passado, a colheita no Estado tinha sido recorde, de 5,541 mil toneladas.

Embora seja uma cultura de alternância de safras positivas e negativas, o volume colhido aumenta praticamente todos os anos devido à entrada em produção de novas árvores. Uma nogueira só começa a produzir comercialmente de 8 a 10 anos após o plantio e atinge a maturidade produtiva por volta de 15 anos.

O Rio Grande do Sul é o maior produtor de noz-pecã do Brasil, com 71% da área plantada, seguido por Santa Catarina (21%) e Paraná (8%), segundo o IBPecan. A estimativa de produção em Santa Catarina, que tem plantios mais recentes, é de 900 toneladas. No Paraná, não há dados atualizados.

A Pecanita, maior produtora do país, com 700 hectares contínuos plantados em Cachoeira do Sul (RS), sendo 150 ha irrigados, registrou uma perda de 40% nesta safra. “Saímos de uma safra alta e colhemos neste ano 200 toneladas a menos. As árvores tiveram floração para boa safra, mas faltou água até para a irrigação”, diz Claiton Wallauer, sócio-diretor da fazenda que cultiva o fruto há mais de 50 anos e abriga também a maior e mais antiga agroindústria do setor.

Wallauer ressalta que era esperada neste ano uma produção até 20% mais baixa devido à bienalidade negativa, mas o estresse hídrico derrubou ainda mais a produtividade média das nogueiras, que é de 1.000 a 1.500 quilos por hectare.

Quem também colheu bem menos neste ano foi o comerciante Claudio Roberto Chiocheta, que plantou 1.500 árvores em 7,5 hectares, em Santa Maria, e mais 200 plantas em Dilermando Aguiar, em 2010, sem irrigação. Ele conta que perdeu 60% da produção devido à seca. “Eu vinha de boas colheitas, com aumentos anuais de produção, mas a falta de chuvas prejudicou demais as nogueiras neste ano.”

Irrigação

Já os pomares do advogado Demian Segatto, presidente do IBPecan, quase não foram prejudicados pela seca. Ele cultiva noz-pecã desde 2013 em três fazendas que somam 256 hectares em Pantano Grande, e investiu em irrigação em 100% da área. Nos 62 hectares em produção comercial, Segatto colheu 22 toneladas, 20% da capacidade produtiva que espera atingir no 15º ano de produção.

Segundo ele, a região teve frio suficiente e a fecundação das árvores foi eficiente, mas a estiagem a partir de outubro provocou muito abortamento de frutos, especialmente nas fazendas sem irrigação. Além disso, a casca que começou a se formar em janeiro também sofreu os efeitos da falta de água. As chuvas voltaram em março, época que a nogueira começa o processo de enchimento dos frutos, o que resultou em uma noz menor, mas, em compensação, com muito mais qualidade e sabor.

Quem também destaca a qualidade do fruto que colheu neste ano, graças à irrigação por aspersão adotada em 2020, é o militar da reserva Lailor Machado Garcia, que cultiva 7 hectares em Cachoeira do Sul desde 2009. Com 3 hectares em produção, ele colheu cerca de 1.500 quilos por hectare como média nos últimos três anos e espera alcançar a produtividade de 2.000 quilos para começar a ter lucro com a cultura.

“Faltou um pouco de água para irrigação no final de fevereiro, mas optei por priorizar os pomares em produção e colhi frutos maiores e com mais qualidade que no ano anterior.”

Carlos Roberto Martins, pesquisador especialista em noz-pecã da Embrapa Clima Temperado, explica que a nogueira é uma planta que exige muita água. A irrigação é uma forte aliada dos produtores, mas só é usada em poucas propriedades devido ao custo. A produtividade dos pomares mais antigos, diz Martins, não chega a 1.000 quilos, rendendo de 800 a 900 quilos por hectare, diante da média de 1.500 a 1.800 quilos por hectare. Os pomares mais novos e com mais uso de tecnologia chegam a produzir 2.000 quilos por hectare e têm a alternância de safras reduzida com a irrigação.

Foto: Divulgação/Pecanita

 

Fonte: Globo Rural