Produtores de soja querem que empresas sejam investigadas por alta de fertilizantes

9 de junho de 2022

Preocupados com o aumento dos custos de produção, produtores de soja de Mato Grosso querem que as empresas de fertilizantes sejam investigadas e deem explicações para a alta dos preços do insumo. A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) informou ter pedido à Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) que acione o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para avaliar o que tem sido praticado no mercado brasileiro.

“Sugerimos à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) que acione o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), cobrando explicações das empresas sobre o reajuste no preço considerado pelo setor produtivo como “abusivo e inexplicável” ou mesmo como “formação de cartel”, ou seja, com intuito de gerar lucro às poucas indústrias que atuam no país”, afirmou o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, em nota divulgada pela entidade no dia 26 de maio.

No comunicado, a Associação destaca que os preços dos fertilizantes subiram 350%, o que pode provocar riscos de desabastecimento. Para os sojicultores de Mato Grosso, esse aumento é inexplicável e não se justifica só pela alta dos preços de combustíveis.

À Globo Rural, Cadore reafirma a intenção de entidade em buscar as autoridades de defesa da concorrência. Ele diz ainda que levou a pauta dos preços dos fertilizantes também ao ministro da Agricultura, Marcos Montes, para que ajude o setor a entender e monitorar o que está acontecendo.

“É inexplicável. Não tem sentido a tonelada de cloreto de potássio subir quatro vezes, de US$ 300 para US$ 1.100. Queremos compartilhar com as indústrias de fertilizantes as possíveis consequências da redução da produção frente a esses aumentos que massacram o produtor e podem até causar desabastecimento mundial de alimentos”, diz ele.

Presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), o deputado Sérgio Souza (MDB-PR) disse à Globo Rural que o pedido da Aprosoja-MT deve ter sido encaminhado ao Instituto Pensar Agro (IPA), que presta assessoria ao colegiado. A assessoria do Instituto não e da Frente confirmaram que o assunto foi colocado pela associação que representa os sojicultores, mas não iria comentar até o final das discussões internas.

Estudo

De qualquer forma, Souza avalia que é inadmissível o aumento de custos de produção, especialmente dos fertilizantes. Segundo ele, a FPA está elaborando um estudo envolvendo o Executivo, mais precisamente o Ministério das Relações Exteriores, para saber se está acontecendo um abuso de preços ou apenas repasse de custos maiores.

“Vamos levantar quanto custava em 2020 uma tonelada de fertilizantes na Europa, Estados Unidos, China, Índia e Argentina e quanto está hoje para comparar com o aumento no Brasil. Se estão dizendo que foi a logística, a falta de navios, o aumento do petróleo, isso aconteceu para todos os países”, explica.

Não há prazo para terminar o estudo. Caso a conclusão seja a de que há mesmo um abuso de preços dos fertilizantes, o deputado disse que a FPA deve abrir no Congresso Nacional uma Proposta de Fiscalização e Controle (PFC), convocando os órgãos do governo, como Tribunal de Contas e Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

“O mercado é livre, mas, se há abusos, têm que ser combatidos. Uma grande empresa anunciou há alguns dias um lucro de mais de 400%. Sabe quem está pagando essa conta? Todo mundo que consome alimentos no Brasil”, diz o parlamentar.

Segundo o presidente da FPA, o produtor rural brasileiro está enfrentando o maior custo de produção da história. Parte desse aumento é absorvido pelo agricultor, com a redução de seus dividendos, mas outra parte é repassada para os alimentos.

“O grande vilão da inflação não é o aumento dos alimentos e sim o custo de produção. O fertilizante saiu de US$ 300 para US$ 1.300, o glifosato subiu de R$ 30 reais o quilo para R$ 150, as máquinas agrícolas duplicaram de preço”, pontua.

“Insinuação preocupante”

Questionada sobre a manifestação da Aprosoja de Mato Grosso, a direção da Associação Nacional para a Difusão dos Adubos (Anda), que reúne as indústrias do setor, não deu entrevista. Em nota, diz apenas que “considera preocupante qualquer insinuação que possa prejudicar uma indústria que luta incessantemente para garantir o fluxo desses insumos à agricultura pátria, tendo batido recordes de entregas um ano após o outro”.

A entidade reitera que o Brasil produz apenas 15% da demanda interna de fertilizantes, importando os demais 85%. Essa dependência, diz, deixa o Brasil exposto às condições de oferta e volatilidade de preços internacionais, que acabam por ditar a dinâmica comercial (prazos de entrega, disponibilidade e preço) com os clientes finais no Brasil.

“No caso do fertilizante, o cenário é agravado pelo alto custo energético, pela majoração do gás natural, inflação e pelo câmbio, além das incertezas geopolíticas com as sanções impostas à Rússia. Por esses motivos, é preciso responsabilidade e prudência ao analisar quaisquer informações de mercado”, diz o comunicado.

Foto: Reuters

 

Fonte: Globo Rural