Pesquisa avalia bioinsumo para ampliar produção de lúpulo no Brasil

15 de fevereiro de 2023

Pesquisadores descobriram que a produção de lúpulo pode ser beneficiada pela ação de bactérias e fungos encontrados na natureza.

A exemplo de outras culturas em que os produtores já utilizam bioinsumos para potencializar a produtividade, experimentos com mudas inoculadas com a bactéria Azospirillum indicaram aumento de 52% de biomassa na parte aérea da planta.

“Nossa perspectiva é obter um bioinsumo que estimule a produção de mudas mais vigorosas, com menor tempo de viveiro e que reflitam em benefícios em relação à produtividade e, quem sabe, até na qualidade sensorial do lúpulo”, explica o pesquisador Gustavo Xavier, da Embrapa Agrobiologia (RJ).

O trabalho é uma das frentes da Rede Lúpulo, projeto multidisciplinar voltado a criar condições para o estabelecimento da cultura no país.

O experimento foi realizado no Viveiro Ninkasi, localizado em Teresópolis (RJ), o primeiro reconhecido pelo Ministério da Agricultura (Mapa) para produção de mudas de lúpulo no Brasil.

Com as práticas de manejo usuais já realizadas no viveiro, os pesquisadores testaram bactérias e fungos armazenados na coleção do Centro de Recursos Biológicos Johanna Döbereiner (CRB-JD), em Seropédica (RJ).

São microrganismos que, reconhecidamente, têm a função de promover o crescimento de plantas, mas não se sabia ainda se teriam algum benefício sobre o lúpulo.

Além de fazer novos testes de campo com diferentes bactérias da coleção biológica da Embrapa Agrobiologia, os pesquisadores querem conhecer também como se dá a interação do lúpulo com outros microrganismos, como fungos e bacilos.

“Ainda que os resultados sejam preliminares, eles apontam as potencialidades de expansão desses bioinsumos para a cultura do lúpulo”, complementa Xavier.

Manejo apropriado

Não é apenas em microrganismos que é focada a pesquisa com o lúpulo na Serra Fluminense. Por se tratar de cultura ainda incipiente, há pouco material orientador que aborde manejo, colheita e pós-colheita levando em conta as características e necessidades locais.

Pensando nisso, pesquisadores dos três centros de pesquisa da Embrapa no Rio de Janeiro vêm atuando no desenvolvimento de tecnologias e informações adequadas à produção e ao mercado.

Os cientistas querem obter um lúpulo com qualidade diferenciada, especialmente no que se refere às características de aroma.

Os níveis dos constituintes químicos obtidos nas amostras de lúpulo analisadas também têm sido verificados dentro dos parâmetros de qualidade desejáveis pela indústria cervejeira.

Mesmo assim, ainda restam vários desafios técnicos à produção de lúpulo, por ser uma cultura nova no Brasil. “Avanços nas pesquisas precisam ser feitos, visando, entre outros parâmetros, ao aumento da produtividade com qualidade e menor dependência ao fotoperíodo [período de luminosidade]”, aponta Fernando Samary, da Embrapa.

Ele acrescenta que, com a expansão da cultura no Brasil, haverá necessidade de incentivo e implantação de programas de melhoramento que favoreçam a adaptação e o pleno cultivo nas condições brasileiras de solo e clima.

Importação

Em 2021, o Brasil importou, aproximadamente, 4,7 mil toneladas de lúpulo, totalizando mais de R$ 450 milhões. A fim de diminuir essa dependência, além do Rio de Janeiro, a cultura do lúpulo também se expande em outros estados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Norte; a maioria em pequenas propriedades com até um hectare, para atender à produção local de microcervejarias.

Para a produção de cerveja, os quatro ingredientes básicos são: água, trigo, cevada e lúpulo. O último é considerado o “tempero” da cerveja e também o insumo mais caro de sua produção.

As grandes regiões produtoras de lúpulo no mundo encontram-se no Hemisfério Norte, nas faixas mais frias da América do Norte, Europa e Ásia. O produto importado é normalmente vendido em embalagens de 400 gramas, que podem custar até R$ 300.

Foto: Renato Linhares

 

Fonte: Globo Rural