Pandemia levou à redução do consumo de pescados no Brasil

14 de setembro de 2022

A pandemia de coronavírus freou o consumo de pescados no Brasil, segundo estudo feito pela Embrapa Pesca e Aquicultura. Consumidores de todas as regiões do país afirmaram que preços e dificuldade de acesso aos produtos os levaram a reduzir e até mesmo eliminar o consumo. O resultado do estudo mostra a interrupção de uma tendência de alta que vinha sendo registrada até fevereiro de 2020.

O estudo “Efeitos do isolamento social durante a pandemia de Covid-19 na comercialização e no consumo de pescado no Brasil” entrevistou pessoas nas capitais das cinco regiões do país. Também analisou informações de 13 frigoríficos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Com isso, foi possível coletar indicadores sobre o comportamento dos consumidores e os impactos da pandemia no setor.

“Esse estudo, mesmo que de maneira amostral, revelou essa condição de diminuição do consumo de pescado, o que é preocupante para o setor e para a economia local, visto a interferência negativa na geração de renda da população que depende desse setor para sobreviver,” avalia o analista da Embrapa Diego Neves de Sousa, um dos autores.

Mudança de locais de compras

Segundo o estudo, 26,92% dos entrevistados afirmaram ter reduzido o consumo de carne de peixe durante a pandemia, e 4,27% eliminaram completamente. Entre os motivos apontados pelos participantes para a mudança de comportamento, estão: redução na oferta dos produtos (17,38%), redução na qualidade (11,4%) e impossibilidade de comprar (6,7%).

Estes dados contrastam com os de antes da pandemia, quando 25,93% dos entrevistados afirmaram consumir pescado pelo menos uma vez na semana, 23,93% duas a três vezes no mês, 20,94% duas ou mais vezes na semana e 11,68% pelo menos uma vez no mês.

A mudança de comportamento também refletiu nos locais de compra. Antes da pandemia, 21,79% disseram que tinham o hábito de comprar peixe em hipermercados, 20,23% em peixarias ou feiras e 3,13% em atacadistas. A partir do coronavírus, houve um incremento na preferência por hipermercados (29,91%), delivery (8,69%) e atacadistas (3,56%).

“De modo geral, com o fato de as feiras livres e os mercados informais terem sido praticamente fechados nos primeiros meses da pandemia, as únicas opções disponíveis foram as grandes redes de hipermercados”, observa Sousa.

Produção também foi afetada

Frigoríficos que participaram do estudo também apontaram que a pandemia afetou a produção. Para 46% das empresas de processamento de pescado houve diminuição na oferta de matéria-prima para o beneficiamento. E para 54%, houve dificuldades na aquisição desses insumos, como demora na entrega de embalagens, falta de materiais de limpeza e a própria falta de salmão no mercado.

Isso tudo se refletiu no faturamento: 61% afirmaram que sofreram uma queda global nas vendas e 8% apontaram interrupção total. Todavia mesmo com essas dificuldades, a maioria das indústrias manteve o seu quadro de funcionários, sem necessidade de demissões. Em algumas houve suspensão temporária das atividades por até 60 dias.

“Apesar das restrições de circulação, o setor continuou a produzir e ofertar produtos de pescado aos consumidores, com pouca variação de preço. Além disso, a solidez da indústria permitiu a sobrevivência da atividade, que se manteve atuante por causa da infraestrutura e das estratégias adotadas”, aponta a pesquisadora Patrícia Costa Mochiaro Chicrala, uma das autoras da pesquisa.

Foto: Divulgação/Embrapa

 

Fonte: Globo Rural