O que explica a redução de 1,22% no preço da carne vermelha?

21 de março de 2023

O preço da carne bovina caiu 1,22% em fevereiro. Esta é a maior queda dos últimos 15 meses, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), responsável pelo levantamento do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial do país para medir a variação dos preços.

No IPCA, a variação das carnes reflete os preços de 18 subitens. Em fevereiro, a picanha foi o corte pesquisado com a maior queda (-2,63%). Em seguida, vieram fígado (-2,50%), alcatra (-2,50%), capa de filé (-2,37%) e costela (-2,28%). Outra carne de primeira que teve queda significativa foi o filé mignon, que caiu 1,77%.

Especialistas do setor indicam três fatores como responsáveis pela queda nos preços. O principal deles é a suspensão das exportações de carne bovina para a China, no dia 23 de fevereiro, após ser detectado um caso atípico de mal da vaca louca no Pará. Por conta desse embargo, teria aumentado a oferta interna de produtos.

Além disso, houve queda no preço das rações para engordar os animais, reduzindo custos de produção. Por fim, o setor sofreu influência da quaresma – período que tradicionalmente representa menor procura do consumidor por carne vermelha e já faz parte do ciclo da pecuária.

Apesar de a redução no preço da carne vermelha ter sido bastante comemorada pelo consumidor, economistas ressaltam que não representou grande alívio para todos os brasileiros. Segundo especialistas, para avaliar o impacto no poder de compra da população, é preciso levar em conta um período maior.

André Vaz, economista da FGV, destaca que o preço da carne vermelha vinha em alta há anos. “O preço continua distante do que se pagava há quatro anos. Com esse cenário, uma redução em torno de 1% ainda é pequena para a população com renda mais baixa, que não deve aumentar o consumo a partir dessa variação”, analisa.

Boi gordo cai, carne no atacado não

Análise divulgada pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) aponta que o baixo ritmo de negócios após verificação de caso atípico de vaca louca no Pará, em 23 de fevereiro, pressionou o preço do boi gordo no mercado físico, mas não no atacadista.

“De maneira geral, os agentes da pecuária nacional têm sido cautelosos na hora de fechar negócios, esperando que a China volte a importar carne bovina do Brasil”, informa análise da instituição.

Segundo o relatório, em meio às incertezas relacionadas à economia mundial, compradores internacionais têm pressionado as cotações de commodities e alimentos, inclusive da carne bovina.

“A China vem reduzindo o preço pago pela carne bovina brasileira, e o recente problema sanitário pode levar o país asiático a tentar baixar ainda mais os preços pagos pelo produto nacional. Por outro lado, a dependência chinesa da carne bovina brasileira pode levar o país a retomar rapidamente as importações.”

Ainda assim, o desempenho das exportações da carne bovina brasileira em janeiro e fevereiro de 2023 foi o segundo melhor para o período em todos os tempos, atrás apenas do recorde registrado no primeiro bimestre de 2022.

Nos dois primeiros meses de 2023, o Brasil exportou 286,64 mil toneladas de carne bovina in natura, contra 299,65 mil toneladas no mesmo período de 2022, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Em relação ao mesmo período de 2021 e 2020, o volume exportado este ano é 37% e 26% maior, respectivamente.

No mês passado, ainda de acordo com a Secex, o Brasil exportou 126,44 mil toneladas de carne bovina, 21,06% a menos do que em janeiro e 20% abaixo de fevereiro do de 2022.

Esse volume também é o menor desde dezembro de 2021, quando o Brasil acabava de retomar as exportações para a China, após três meses de suspensão por causa de dois casos atípicos de doença da vaca louca (um no Mato Grosso e outro em Minas Gerais). Considerando apenas fevereiro, o volume exportado em 2023 só ficou abaixo do recorde embarcado em 2022, que somou 160 mil toneladas

O impacto da interrupção da exportação para a China deve ser sentido, entretanto, nas próximas semanas ou meses. Analistas do setor indicam que as cargas que já estão em trânsito (num percurso que leva mais de um mês até o país asiático) não devem ser barradas, pois foram certificadas antes do embargo.

Especialistas evitam especular uma data para retomada dos negócios com a China. Comitiva do governo enviada ao país conta com grande parte de profissionais do setor, no objetivo de incentivar a volta das negociações.

Frigoríficos perdem milhões por dia útil

A Datagro Pecuária informou que os frigoríficos brasileiros estão perdendo entre US$ 20 e US$ 25 milhões por dia útil depois da interrupção das exportações de carne bovina para os chineses.

A estimativa é baseada nos preços atuais de exportação da carne bovina, variando entre US$ 4.800 e US$ 5.000 (R$ 25.395 a R$ 26.400) por tonelada.

No ano passado, o Brasil exportou um total de 1,9 milhão de toneladas de carne bovina in natura, cerca de 62% para a China. Em uma base diária, o Brasil enviou cerca de 4.700 toneladas de carne bovina para o país asiático em 2022, segundo a Datagro.

O Brasil é o maior fornecedor de carne bovina para a China, respondendo por 40,5% de suas importações, de acordo com a consultoria. A China também importa carne bovina da Argentina e Uruguai, Nova Zelândia, Estados Unidos e Austrália.

Criadores sofrem com custos

A redução da demanda dos frigoríficos acarreta aumento de custo para os criadores. Com mais gado na fazenda por mais tempo, os pecuaristas veem a rentabilidade cair, sem previsão para retomada.

O confinamento foi mais impactado. Aqueles que investiram em pastagens têm pequeno alívio pelo ciclo de chuvas registrado no início do ano, que garantiram pasto mais amplo.

Foto: Envato

 

Fonte: Globo Rural