Novo sistema de cultivo de erva-mate em estufa produz 10 vezes mais

15 de março de 2023

A Embrapa Florestas, com sede em Colombo (PR), desenvolveu um novo sistema de cultivo de erva-mate em estufas que permite uma produção até dez vezes maior que a tradicional feita a campo. Em 18 meses, é possível fazer dez colheitas em vez de apenas uma. A produção, no entanto, não é destinada ao chimarrão e sim a chás com sabores diferenciados e maiores concentrações de cafeína e antioxidantes.

O pesquisador Ivar Wendling diz que o sistema denominado Cevad-estufa, que ainda precisa ser validado junto a produtores, foi desenvolvido para a colheita de folhas jovens e não das folhas maduras, tradicionalmente utilizadas na produção de chimarrão. Assim como já se produz o chá-preto, chá-verde e chá branco a partir da Camellia sinensis, que utiliza folhas e processos distintos, será possível fazer isso também com as folhas da erva-mate (Ilex paraguariensis).

“A cada 60 dias, em média, é possível coletar novas brotações e folhas. Resultados mostraram que é possível produzir em um ano até 90 toneladas de biomassa por hectare no novo sistema, enquanto a média da produtividade brasileira de erva-mate é de 7,5 toneladas por ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).”

A adoção do Cevad-estufa demandará maiores custos para a implantação porque envolve investimentos com as instalações da estufa, canaletas, aquisição de grande quantidade de mudas, assistência técnica e mão de obra especializada para o manejo, além de fertilizantes para uma solução nutritiva adequada.

“Apesar do custo inicial, o sistema tem um grande potencial de produtividade, além da geração de matéria-prima diferenciada. Com essas vantagens, prevê-se que o investimento da implantação se pague com o tempo e gere um bom retorno econômico”, diz o pesquisador, acrescentando que esse cultivo permite um maior potencial de automação.

No Cevad-estufa, as erveiras são dispostas nas estufas em linhas, em canteiros suspensos contendo areia preparada para o cultivo. O espaçamento entre as mudas é de 15 cm x 15 cm e as plantas atingem de 15 cm a 30 cm de altura. O sistema permite que sejam alocadas mais de 300 mil plantas de erva-mate em um hectare, enquanto no sistema de produção em campo se planta 2.200 mudas por hectare.

Cápsulas antioxidantes

Segundo Wendling, estudos apontaram a existência de cerca de 200 compostos químicos em folhas da erva-mate, muitos potencialmente bioativos. Com o Cevad-estufa, além de chás especiais, é possível extrair compostos para produção de cosméticos, suplementos alimentares e produtos farmacêuticos.

Uma das opções são cápsulas ou sachês com pó de extrato de erva-mate, que apresentam efeito antioxidante. Outro produto de interesse são os estimulantes, devido à alta qualidade e concentração de cafeína nas folhas jovens de erva-mate, em materiais genéticos melhorados.

Os chás obtidos da Camellia sinensis são muito consumidos no mundo todo, inclusive pelas suas propriedades antioxidantes e podem custar para o consumidor final mais de R$ 150 o quilo. Blends (misturas) com erva-mate já estão sendo comercializados em diversas marcas de chá, mas usam folhas maduras vindas do processo tradicional de produção e beneficiamento da erva-mate.

O Brasil é o maior produtor mundial de erva-mate. Em 2021, dados do IBGE apontaram uma produção de 557,98 mil toneladas, sendo o Paraná o maior produtor.

Foto: Manuela Bergamin

 

Fonte: Globo Rural