Milho e farelo de soja do Brasil podem ter vantagem com tensão maior entre EUA e China

5 de agosto de 2022

A viagem da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan causou um novo ponto de tensão entre Estados Unidos e China e acendeu um novo sinal de alerta no mundo. O governo chinês considerou a viagem uma provocação. Em resposta, promoveu exercícios militares e sinalizou com a possibilidade de retaliação.

O comércio pode ser um dos alvos dos chineses, avalia o economista Felippe Serigati, coordenador do mestrado profissional em agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele pontua, no entanto, que o mercado ainda não conseguiu avaliar de forma mais concreta os efeitos econômicos desse novo momento tenso em um mundo que já enfrenta uma guerra na Europa.

“Os chineses não são impulsivos, são estratégicos. Por enquanto, o governo não deu nenhuma resposta contundente. Restringir importação de frutas de Taiwan e fazer exercícios militares perto de Taiwan são apenas espuma, mas em um cenário de possíveis restrições comerciais, a soja e farelo americano são bons candidatos”, diz Serigati.

China e Estados Unidos assinaram, ainda no governo de Donald Trump, um acordo comercial que inclui compras maiores de commodities agrícolas por parte dos chineses. Para Felipe Serigatti, se o país asiático resolver retaliar produtos americanos, tende a adotar a medida em cadeias produtivas das quais tenham outros fornecedores.

Neste contexto, o Brasil, que tem na China seu principal parceiro comercial, pode ter uma vantagem. Brasileiros e chineses vêm negociando protocolos de exportação de milho e de farelo de soja. Os embarques de milho devem começar com o grão da safra 2022/2023, embora o Ministério da Agricultura acredite na possibilidade de começar ainda neste semestre.

Em relação ao farelo de soja, a expectativa é de ter plantas habilitadas a embarcar o produto para a China dentro de dois meses, como afirmou o ministro da Agricultura, Marcos Montes, na última segunda-feira (1/8). “Pode ser um bom momento para o Brasil deixar uma porta entreaberta na negociação com os chineses”, avalia Serigati.

O analista lembra que a China já aplicou restrições comerciais aos EUA durante o governo do ex-presidente americano Donald Trump. Mas o momento é outro tanto na China como dos Estados Unidos, que agora é dirigido pelo democrata Joe Biden, cujo grupo não apoiou a visita da também democrata Pelosi a Taiwan.

Do lado chinês, o presidente Xi Jinping já manifestou várias vezes o interesse em anexar Taiwan. No entanto, está em uma posição delicada devido à queda no crescimento do PIB do país e poderia considerar estratégico retaliar comercialmente os Estados Unidos enquanto prepara mais uma tentativa de se manter no cargo.

A reunião do Partido Comunista para este fim está prevista para o final do ano.

Foto: Reuters

 

Fonte: Globo Rural