Manejo híbrido pode ser alternativa para combater a cigarrinha-do-milho

31 de março de 2023

Prestes a colher o milho safrinha, produtores goianos estão apreensivos com a proliferação das cigarrinhas, inseto de cor palha que, por se alimentar da seiva da planta, funciona como vetor de bactérias e vírus. A praga requer máxima atenção, pois os danos podem ser grandes nas lavouras.

Se o risco é grande para o produtor que não monitora a lavoura, por outro lado, há formas de controle. Uma das mais eficientes pode ser o chamado manejo híbrido, conciliando defensivos químicos e biológicos. É o que afirma o pesquisador em Entomologia, Glauber Stümer, que tratou do tema em palestra durante a Tecnoshow Comigo 2023, em Rio Verde (GO).

Stümer adverte que, apenas com químicos, não é possível controlar em 100% a contaminação. Daí a importância de incluir os biológicos. Por ser uma praga que se espalha do milho mais velho para o mais novo, monitorar o plantio ajuda a definir dosagens e também a forma de aplicação dos produtos: ou simultaneamente ou de forma intercalada, desde a semeadura até pouco antes da colheita.

“Entre as táticas, estão o entendimento sobre a tolerância de híbridos, sincronização de semeadura e manutenção de um intervalo entre aplicações, para que o produtor tenha sucesso e evite perdas que esse inseto pode levar à cultura. Quando começamos a integrar o manejo, o potencial de perda de produtividade cai para abaixo de 15% a 20%”, explica, ponderando que há risco de perda da lavoura caso a absorção dos defensivos pelo milho seja baixa e a densidade de cigarrinhas seja alta.

De olho nessa demanda, a indústria tem trabalhado em soluções combinadas. Algumas são apresentadas durante a Tecnoshow Comigo. A gerente de Safra de Milho, Soja e Cereais de Inverno na FMC Agrícola, Débora Prado, a cigarrinha teve um “boom” de três anos para cá e está exigindo muito estudo por parte do setor.

“No caso da cigarrinha, você controla o manejo e a população, mas é muito difícil zerá-la na lavoura, por isso demanda tantas aplicações de inseticida. Um não vai substituir o outro, mas o que estamos acompanhando nesta safrinha é que misturar o biológico junto com o inseticida químico tem trazido mais produtividade para o agricultor”, elucida a especialista à Globo Rural.

O que os produtores dizem

Entre produtores ouvidos por Globo Rural na Tecnoshow, há quem diga ver benefícios nesta forma de manejo conciliando defensivos químicos e biológicos. E há os mais cautelosos, que dizem não querer arriscar.

Rubens Loyola e o filho Maurício Loyola gostaram do procedimento combinado que testaram na propriedade, em Piracanjuba (GO). “No milho, fizemos o manejo híbrido no tratamento de sementes em 400 hectares, além de trabalhar com produtos químicos e biológicos em aplicação aérea para o controle de cigarrinha”, conta Maurício.

Neste ano, pai e filho também aplicaram o sistema nos 1500 hectares de soja, com a intenção de frear doenças, nematoides e outras pragas. Além de limitar a ação da própria cigarrinha que pode atacar a oleaginosa, ainda que de forma menos severa.

Já o produtor de Caiapônia (GO), Marcos Chagas, não quis colocar em xeque o plantio feito em 1.300 hectares do milho e deixou a combinação de químicos e biológicos para o futuro. “Por enquanto, priorizei o manejo com produto químico. Estou aguardando o resultado dos outros biológicos para validação. Como nesse ano a pressão da cigarrinha está alta, o que está atrapalhando bastante, não quis arriscar”, comenta.

Chagas detalha que as aplicações de defensivos estão sendo feitas duas vezes para evitar infecção e, até no talhão de teste com manejo híbrido, ele resolveu reforçar com dosagem do insumo químico para o “problema não detonar a lavoura”.

Como perceber os sintomas da cigarrinha?

O pesquisador Glauber Stümer explica que os sintomas aparecem de três a quatro semanas após a contaminação. “Uma vez visualizados esses danos, não é possível mais interferência humana no desenvolvimento das bactérias e dos vírus. Por isso, incentivamos o monitoramento para ser assertivo nas práticas de manejo, antes que haja essa contaminação e o complexo do enfezamento”, detalha.

Alguns dos sinais aparentes são coloração arroxeada, diminuição do porte, estrias claras na folha e espigas com pouco ou nenhum grão. Se a planta for contaminada, o especialista recomenda cuidado e ação contra a carga viral e bacteriana incidente na cultura para conter a queda de produtividade.

Mesmo com cigarrinha, Goiás deve colher mais milho

De acordo com o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em Goiás, a expectativa de crescimento da safra 2022/2023 de milho é de 29,2%, em comparação com a anterior. O Estado deve produzir 12,6 milhões de toneladas do grão, 10,9 milhões da segunda safra, que está em andamento.

Goiás também obteve aumento nas exportações que, em janeiro, fecharam em 514,6 mil toneladas, totalizando US$ 145,8 milhões, segundo indicadores da Agrostat, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Foto: Freepik

 

Fonte: Globo Rural