Indústria questiona estudo que mostra alta do preço do ovo 200% acima da inflação

6 de julho de 2022

A indústria de aves está contestando um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) segundo o qual o preço do ovo no varejo teve um aumento 202% acima da inflação ao longo dos últimos dois anos. Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e o Instituto Ovos Brasil (IOB) afirmam que os dados estão descontextualizados e questiona a metodologia utilizada para a apresentação do dados.

O IBPT divulgou os dados na semana passada, relacionando preços no varejo com o IPCA, o índice oficial de inflação, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, o preço do ovo foi o que mais aumentou de março de 2020 a maio de 2022, período pós-pandemia. De acordo com o presidente do IPBT, na primeira versão do estudo, o arroz tinha liderado a alta e na segunda, foi a carne bovina.

“Não está clara, no arquivo divulgado, a metodologia aplicada para os levantamentos – como, por exemplo, se foram considerados exatamente os mesmos tipos de ovos, ou se são de marcas diferentes – apenas que se trata de um levantamento com base em dados provenientes de vendas nas gôndolas. Também não fica clara a margem de participação do varejo na formação de preço”, questionam a ABPA e o IOB, em nota.

Do ponto de vista dos produtores, argumenta a associação, a realidade é diferente. A ABPA cita dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), segundo os quais a caixa com 30 dúzias de ovos brancos aumentou 37,3% desde o início da pandemia, passando de R$ 105 em março de 2020 para R$ 144,51 em maio de 2022. No mesmo período comparativo, o preço da caixa de 30 dúzias de ovos vermelhos aumentou 30,9% e passou de R$ 123,96 para R$ 162,25, segundo a entidade.

As entidades argumentam que os reajustes estão vinculados ao aumento dos custos de produção, especialmente de milho e soja, principais itens da alimentação das aves, que respondem por mais de 70% dos gastos. A saca de R$ 60 quilos de milho aumentou de R$ 57,41 (março de 2020) para R$ 87,36 (maio 2022), uma alta comparativa de 52,2%. Já a soja (saca de 60 kg) aumentou 114%, saltando de R$ 88,23 para R$ 188,96.

“Além disso, o preço do papelão, por exemplo, aumentou mais de 80%. Diesel, energia e outros pontos também impactaram o custo. Os dados dos custos de produção ilustram a problemática enfrentada pelo setor de ovos neste quadro produtivo. Ao mesmo tempo, os índices do Cepea mostram que o setor produtivo está longe de ser o vilão do quadro inflacionário”, afirmam a Associação Brasileira da Proteína Animal e o Instituto Ovos Brasil.

IBPT reafirma conclusão

Em nota enviada à Globo Rural, o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) reafirma a conclusão do estudo divulgado na semana passada. Respondendo a questionamentos sobre a metodologia utilizada, a entidade explica que a maior parte dos dados de preços foi obtida por meio do Aplicativo Citizen, uma ferramenta do próprio IBPT que tem a finalidade de controle de gastos e de notas fiscais.

Os preços apurados correspondem aos períodos de março de 2020 a maio de 2022. Ainda no comunicado, o IBPT ressalta que o levantamento foi complementado por pesquisa feita em lojas online de supermercados e outras redes de varejo que comercializam os produtos incluídos na cesta utilizada no estudo. Após esse levantamento, informa o Instituto, foram calculadas as variações entre os valores e comparadas com a inflação.

“Portanto, os preços dos produtos pesquisados evidenciados no estudo refletem uma situação pontual, que pode não ser o mesmo retrato de períodos posteriores ao levantamento dos dados”, diz o IBPT, em nota.

Foto: 169clue/CCommons

 

Fonte: Globo Rural