Indústria de carne alerta que lei ambiental europeia pode dificultar exportações do Brasil

21 de outubro de 2022

Não existe produção sustentável sem ser rentável e o Brasil vai ter problemas para exportar seus alimentos quando a União Europeia colocar em vigor a determinação de não importar produtos de países com desmatamento. Com esses consensos, representantes das três maiores indústrias de proteína animal do país, JBS, Marfrig e Minerva, abriram nesta quinta (20/1) o 1º Fórum Futuro do Agro debatendo como responder aos desafios de produzir mais para alimentar o mundo de forma sustentável, atendendo as metas do Acordo de Paris. O evento promovido pela Globo Rural e Imaflora teve ainda a participação do Imaflora e da Rede ILPF.

Marina Piatto, diretora-executiva do Imaflora, expôs a engrenagem do carbono na agropecuária, colocando o caminho para se obter o crédito, como fazer a conexão com os acordos internacionais para cumprir os regulamentos do Acordo de Paris e colaborar para evitar o aumento da temperatura mundial

Eduardo Bastos, CEO da My Carbon, empresa do Grupo Minerva Foods, disse que passou três semanas em Genebra e Paris falando de sustentabilidade no lançamento oficial da primeira carne carbono neutro do mundo. “Tive que responder diversas vezes quando vamos parar o desmatamento e se vamos continuar aumentando a produção. É difícil ouvir que o Brasil é um mal necessário para alimentar o mundo.”

Segundo Bastos, o país pode sim aumentar sua produção capturando mais carbono do que emitindo, mas para isso é preciso primeiro acessar os recursos. “Os recursos existem, mas precisamos ter projetos que entreguem resultados e temos que ser mais ousados. Projetos de menos de R$ 50 milhões para os investidores nem vale a pena transacionar.”

Para Mauricio Bauer, diretor de sustentabilidade da JBS Brasil, o grande desafio realmente é como alimentar o mundo sem aumentar o uso dos recursos. “Temos que ser mais eficientes na produção e olhar para toda a nossa cadeia com o cuidado que ela merece ter. Temos que oferecer condições para todos os atores atingirem as metas sustentáveis, dar o direcionamento e favorecer mecanismos de destravamento de crédito.”

Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da Marfrig, afirmou que a empresa buscou entender primeiro qual o contexto da pecuária no Brasil, construindo um mapa de risco, sobrepondo informações coletadas nas propriedades com as informações oficiais. “Conseguimos mapear o Brasil, de alto risco a baixo risco, em todos os biomas. A partir disso, passamos a traçar uma estratégia porque qualquer projeto precisa ter dinheiro e o Brasil não tem dispositivos de crédito adaptável para chegar à ponta que precisa desses recursos para inovar e reduzir suas emissões.”

Na opinião do executivo, o caminho é simples desde que tenha recursos. Ele citou a necessidade de trabalhar quatro pilares: combater o desmatamento, intensificar e levar tecnologia para manejo de pasto, incentivar as práticas de ILPF, principalmente a integração lavoura e pecuária, que já está no DNA do brasileiro.; melhoria genética para encurtar o tempo de abate e produção de animais e criar bovinos que emitem menos metano e suplementação alimentar. “Já temos pilotos que mostram ser possível emitir 30% menos gases só com a suplementação alimentar.”

Pianez e os colegas ressaltaram que as três indústrias, embora gigantes na produção e exportação de proteína animal, representam apenas de 26% a 30% da produção brasileira e são cobradas pelos importadores, que querem o preço da carne brasileira com a rastreabilidade da carne uruguaia.

“As três indústrias que representamos não vão revolucionar o setor porque o grande problema está nos outros 70%. Temos conversado muito sobre produção sustentável e estratégias para reduzir as emissões, mas o grande desafio está em como engajar o setor como um todo”, disse Pianez.

Para Fabio Passos, head de carbone venture da Bayer, a construção de uma produção agropecuária mais sustentável começa na produção das commodities, que pode reverter 25% das emissões de gases brasileiras, mas é preciso entender o carbono como consequência e não a meta. “O ciclo começa a se intensificar com produção agrícola maior para lá na frente fixar o carbono.”

Foto: Marcos Fantin/Ed. Globo

 

Fonte: Globo Rural