Governo investiga suspeita de caso atípico de vaca louca em MG

2 de setembro de 2021

A Secretaria de Agricultura de Minas Gerais e o Ministério da Agricultura estão investigando um possível caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida como mal da vaca louca, doença neurológica que costuma ocorrer em animais de idade avançada. Segundo informações apuradas por Globo Rural, auditores fiscais agropecuários identificaram comportamento suspeito durante inspeções pré-abate, iniciando a investigação.

Embora ainda não tenha sido confirmado, o caso gerou forte reação na B3, derrubando o valor do contrato futuro do boi gordo de vencimento mais curto para abaixo dos R$ 300 pela primeira vez desde fevereiro. O pessimismo, explica o analista de proteína animal da Safras & Mercado Fernando Iglesias, ocorre pelo risco de suspensão das exportações para China.

“A China tem um mecanismo de suspender provisoriamente as importações de carne do país em que o caso atípico aconteceu. E a China hoje responde por 47% das exportações brasileiras. Então, se acontecer algo nesse sentido, o Brasil seria muito prejudicado”, explica Iglesias. Além da China, a reação de mercados recém abertos pelo Brasil, como os EUA, também preocupa o setor.

“Tem muitos frigoríficos fora das compras hoje, ausente do mercado. Não tem uma unidade frigorífica hoje que esteja comprando boi, para você ter ideia”, relata Iglesias. Procurada, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) afirmou que não comentaria o assunto.

O Ministério da Agricultura (Mapa) informou que “uma vez concluído o processo em investigação, os resultados serão informados”. “Casos em investigação são corriqueiros dentro dos procedimentos de vigilância estabelecidos e medidas preventivas são adotadas imediatamente para garantir o controle sanitário”, garantiu a pasta, em nota.

Histórico

A última vez que o Brasil apresentou um caso atípico de mal da vaca louca foi em 2019 em um frigorífico do Mato Grosso. Segundo informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura na época, o animal diagnosticado com a doença era uma vaca de 17 anos da raça nelore proveniente da região Norte do Estado.

Dias depois, o próprio Mapa informou a suspensão das exportações para a China desde a data de confirmação do caso, cumprindo protocolo bilateral firmado entre os dois países. A suspensão durou dez dias, período que as autoridades sanitárias chinesas passaram avaliando os documentos enviados pelo governo brasileiro.

Ao todo, o Brasil já apresentou três casos atípicos de mal da vaca louca nos últimos 20 anos. Diferentemente do caso clássico, que ocorre quando os animais consomem carne da própria espécie, o caso atípico ocorre naturalmente em bovinos de idade avançada, tal como o Mal de Alzheimer em humanos. É por essa razão, por exemplo, que a China exija que a carne brasileira exportada para o país seja de animais com até 30 meses.

Notificação internacional

Caso seja confirmado o caso atípico em Minas Gerais, o Ministério da Agricultura terá que notificar, obrigatóriamente, a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). Os testes consistem em dois exames, uma prova e uma contraprova. Segundo fontes ouvidas por Globo Rural, o vazamento da informação para o mercado financeiro seria um indício de que o primeiro teste tenha dado positivo.

“Quando é só uma suspeita pelo comportamento animal, o boato não se espalha porque isso [animal prostrado ou abatido] é uma coisa normal de acontecer. Mas quando a primeira análise dá positivo, a notícia corre. Então, se você está sabendo desse caso, é muito provável que a primeira análise tenha dado positivo”, explica um especialista.

Foto: REUTERS/Paulo Whitaker

 

Fonte: Globo Rural