Geada trouxe perdas no café e afetou renovação de canaviais

13 de setembro de 2021

As geadas da segunda quinzena de julho deixaram um rastro de destruição nos cafezais do sul e no cerrado de Minas Gerais, além do norte do Paraná. As avaliações preliminares indicam que a safra deve encolher em até 20%.

A previsão é que caia de 65 milhões de sacas produzidas em 2020 para cerca de 50 milhões de sacas, ou menos.

Dados pontuais dão a dimensão dos estragos. De acordo com a consultoria StoneX, só em Minas Gerais, o principal estado produtor, a quebra é estimada em 28,5%. Considerando todas as regiões que plantam café, as perdas devem oscilar entre 12% e 15%, mas há quem fale em 25%. Um quinto das áreas de cultivo foi afetada.

De todo o café colhido, o país exporta 30%. “Se a lavoura sofrer perdas de 25%, isso terá fortes reflexos nas exportações e nos preços”, diz o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Os reflexos já estão sendo sentidos. Ele observa que o indicador do café arábica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada  (Cepea/Esalq/USP) ultrapassou osR$1 mil a saca de 60 quilos no final de julho, o dobro do valor observado háumano atrás.

Os técnicos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) recomendam cautela aos cafeicultores ao quantificar e precificar suas vendas antecipadas. A geada deve trazer reflexos para próximas safras, pois a necessidade de podas radicais pode retardar por dois anos a retomada da produção dos cafezais. O seguro feito pelos produtores cobre a quebra de produção, mas não preveem a proteção das plantas, agora atingidas pelas geadas.

De acordo com dados da Conab, o país tem 391 mil hectares de café em formação, e a área total em produção é de 1,82 milhão de hectares. Equipes da Conab ainda estão em campo para avaliar os estragos da geada nos cafezais. Numa primeira pesquisa, estimou-se que entre 150 mil e 200 mil hectares de cafezais foram afetados.

Safra menor e preços internacionais altos são bons para o produtor, mas ruim para o consumidor. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) apontam que os preços para o consumidor já subiram entre 11% e 13% em relação ao ano passado. É esperado que, contadas as perdas com a geada, os preços subam ainda mais.

Cana queimada

As lavouras de cana-de-açúcar, que foram duramente prejudicadas pela longa estiagem, agora se ressentem dos danos provocados pelas geadas. Técnicos na área estimam que o rendimento dos canaviais seja de 71,5 toneladas de cana por hectare em 2021/2022, retração de 7,9% sobre o ciclo anterior.

“A cana que foi plantada este ano, e também aquela que já tinha brotado, foi quase toda queimada pela geada”, diz o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Ele observa que a geada provocará um atraso de quatro a cinco meses no processo vegetativo das plantas. Além disso, a cana que foi queimada e que estava brotando, era amuda que seria plantada no próximo ano para renovação dos canaviais.

Roberto Rodrigues tem canaviais em sua fazenda na ensolarada região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, onde a temperatura na madrugada de 20 de julho recuou a 1°C, o pior frio em duas décadas. Ele acredita que os reflexos da geada irão perdurar por três anos ou mais. “Como o plantio da cana é caro, se não houver um programa específico para financiar produção, haverá problemas de oferta e consequências na produção de etanol e açúcar”, adverte.

Ainda segundo Rodrigues, a queda na produção e na qualidade da cana colhida terá reflexos importantes no cenário global, pois o Brasil abasteceu, no ano passado, 50% do mercado global de açúcar”. “A tendência será aumentar a produção de etanol e reduzir a de açúcar, compensando o mercado”, sugere.

Para o diretor da União da Indústria de Cana-de- -Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, a brota na área já colhida, e que foi afetada pela geada, vai passar por uma poda e voltará a brotar, mas com atraso em relação ao processo vegetativo esperado. Isso exigirá um novo planejamento da colheita de 2022/2023, pois quem colher antes perderá em produtividade. E quem atrasar a colheita, poderá pagar mais pelo manejo.

Foto: Getty Images

 

Fonte: Globo Rural