Geada intensa nesta quinta ameaça lavouras pelo Brasil e preocupa produtores

29 de julho de 2021

A massa de ar polar que atingiu o Brasil trouxe geadas para áreas da região Sul nesta quarta-feira (28/7), ainda com efeitos limitados para as lavouras, mas o frio excessivo que deve vir até sexta-feira (30/7), avançando para áreas do Sudeste, ameaça causar novos danos a culturas como café e cana-de-açúcar, segundo especialistas.

“O congelamento após as chuvas leves da zona frontal no Paraná/São Paulo pode causar danos adicionais aos cafezais”, disse Marcin Gorski, analista climático da Refinitiv, citando possível impacto de novas geadas nesta semana.

Nesta quarta-feira, já houve registro de geadas no norte do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no sul e leste do Paraná, disse o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos, em boletim.

Nestes Estados, apenas o Paraná tem alguma relevância para a produção nacional de café, ainda que sendo um produtor menor dessa commodity no Brasil. Mas há preocupações com o trigo, embora somente uma parte do cereal esteja em fase passível de sofrer perdas de produtividade pelo frio.

No Paraná, principal produtor de trigo do país, as plantações atingidas por geadas nesta quarta-feira estão mais atrasadas e, portanto, escaparam de danos mais graves, disse o analista do Departamento de Economia Rural (Deral) Carlos Hugo Godinho. Mas a preocupação é com o evento desta quinta-feira (29/7), chamado de “o dia definitivo”.

No Rio Grande do Sul, segundo produtor de trigo do país, cerca de 80% dessa cultura não está em fase sujeita a quebra pelo frio, disse o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires.

Segundo ele, geadas nesta época são consideradas “normais” para o Estado. “No próximo mês é outra história”, alertou Pires, ressaltando sobre o risco caso este cenário permaneça em agosto.

O milho, seriamente atingido pelas geadas do final de junho, está em sua maioria perto de ser colhido no Paraná, e apenas uma menor parte está em fase de sofrer perdas ainda.

Gorski, da Refinitiv, concorda que a geada provavelmente terá um efeito menor sobre a produção nacional da segunda safra de milho, considerando o andamento da colheita e da produção paranaense.

“Embora a extensão dos possíveis danos do milho permaneça desconhecida no momento, as lavouras locais que não atingiram a maturidade total nesta região serão afetadas.”

Segundo a Rural Clima, a massa de ar polar ganhará força e conseguirá avançar ao norte do Paraná, e o sul e oeste de São Paulo nesta quinta-feira. A tendência é de que as temperaturas fiquem ainda mais baixas no período da manhã, ocasionando geadas amplas do Rio Grande do Sul ao Mato Grosso do Sul, passando por áreas paulistas.

Na sexta-feira, com o tempo aberto, a massa de ar polar ganhará ainda mais força e deve atingir áreas de café, cana, hortaliças, laranja em São Paulo e Minas Gerais.

Cálculo de prejuízos

Na semana passada, o café foi fortemente atingido por geadas que chegaram a prejudicar cerca de 11% das áreas da variedade arábica no país, cultivado principalmente no cinturão localizado entre Minas Gerais e São Paulo.

Cana e milho também foram afetados no Estado de São Paulo, segundo levantamento da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesp). Houve prejuízos ainda nas pastagens e cultivos de citros, grãos, frutas e hortaliças.

No milho, as maiores perdas foram relatadas nas regiões do Médio Paranapanema e no sudoeste. As plantações que estavam em fase de enchimento de grãos devem ter uma quebra de produtividade em torno de 70%. Nas lavouras em estágio mais avançado, a redução no potencial produtivo pode alcançar entre 20% e 30%.

Nas lavouras de café, a estimativa é que de 10% a 20% da área nas principais regiões produtoras do Estado foram atingidas. Os danos foram mais intensos nas lavouras novas, em áreas de plantios nas baixadas, mas nem as plantações mais maduras saíram ilesas. “Isso deverá repercutir em menor rendimento e qualidade dos grãos na próxima safra, com o aumento de grãos pretos e verdes”, diz o comunicado da entidade.

Na cana, o maior comprometimento, segundo a Faesp, ocorreu na região de Ourinhos, com 15% de perdas, especialmente nas áreas com renovação e com brotação nova. A geada deve afetar também o teor de ATR nas áreas que estavam prestes a ser colhidas.

Cerca de 9.300 hectares de hortaliças ou 15% da área do Alto Tietê Paulista foram atingidos pela geada, o que representa prejuízo para aproximadamente 2 mil produtores. Além de redução na quantidade produzida, houve perdas também na qualidade dos produtos. Nas regiões do Médio Paranapanema e Noroeste Paulista, as perdas estimadas passam de 50%.

As pastagens também foram queimadas, segundo o levantamento, impactando ainda mais a perda de massa que já sofria o efeito da seca. Com isso, os pecuaristas terão que suplementar a ração dos animais, gerando possível aumento de custos na produção de carne e leite. Os produtores de leite em sistemas semi-intensivos na microrregião de Avaré relataram quebra de 30% a 50% na produção em um período de apenas três dias.

Agosto gelado

Em uma previsão um pouco mais estendida, a Rural Clima espera que o frio extremo permaneça na primeira semana de agosto, o que pode dificultar a secagem do milho segunda safra e até atrapalhar a colheita por conta da umidade relativa.

A colheita da “safrinha” do cereal caminha a passos lentos em alguns dos principais Estados produtores, como o Paraná, em função do forte atraso no plantio e problemas climáticos durante o desenvolvimento das plantas.

Foto: Danielgp/Wikimedia Commons

 

Fonte: Globo Rural