Geada e seca reduzem produção e preço do tomate ao consumidor sobe 23%

29 de outubro de 2021

As intensas geadas durante o inverno seguidas do tempo quente e seco no início da primavera reduziram a oferta nacional de tomate. Isso em um ano com área plantada 8,5% menor. Foi o que levou o produto a ficar 23,15% mais caro para o consumidor entre setembro e outubro e registrar a maior alta entre preços de alimentos no IPCA-15, considerado a prévia da inflação, divulgado nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“No início da pandemia, houve um choque muito forte na demanda e todo mundo ficou com receio. Cessaram as semeaduras de mudas e os produtores desaceleraram, realmente, os plantios fazendo com que a área acabasse recuando”, explica João Paulo Deleo, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Deleo lembra que a área plantada de tomate no país registra queda desde 2014. Só nos últimos dois anos, a redução foi de 16%. “É uma cultura que já vem há algum tempo perdendo espaço, embora a demanda por tomate no Brasil ainda seja elevada quando comparada ao resto do mundo, figurante entre as sete maiores”, explica o pesquisador.

Além das incertezas de mercado trazidas pela pandemia, a cultura tem sido prejudicada pela alta nos preços dos insumos e as dificuldades para obter fertilizantes e defensivos. “Eu trabalho desde 2007 e nunca vi uma alta tão expressiva de um ano pro outro nos custos de produção como houve esse ano e tão generalizada dos componentes. Todos subiram e alguns de forma bem expressiva”, observa Deleo.

A crise na produção e na logística e a competição com outras culturas por insumos é outro fator que pressiona os custos do tomate. “Hoje, com as grandes culturas bastante atrativas, muitos produtores de hortaliças vêm optando por aumentar o plantio com outras culturas, não só commodities mas também aquelas com um custo menor que o do tomate”, comenta o pesquisador ao mencionar que o custo de produção de um hectare de tomate chega a R$ 150 mil. “É um custo muito alto e quase tudo isso é custeio”, completa.

O engenheiro agrônomo e membro da Comissão Nacional do Tomate de Mesa, João Roberto Júnior, reconhece que o setor vive um momento de desestímulo. Mas pontua: foi mesmo o clima desfavorável nas regiões produtoras que reduziu mesmo a oferta nacional. As geadas em julho atingiram parte do Sul de Minas Gerais, Sudoeste de São Paulo e Paraná, causando perdas na colheita de verão e atrasos na implantação das lavouras de inverno.
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No início da primavera, o tempo quente e seco alternado com tempestades de granizo terminaram de comprometer a oferta nacional de tomate. “Pegamos 60 dias de seca, umidade relativa muito baixa e temperatura alta. E isso causa um estresse muito grande na planta, ela gasta energia para sobreviver e limita a produtividade”, explica o engenheiro agrônomo.

Ele descreve os efeitos da estiagem sobre a produção da região onde atua. “Teve vários açudes que secaram, córrego que abaixou muito o nível de água e alguns produtores foram proibidos de usar irrigação. Tudo isso vai acarretando perdas e, com isso, diminui a oferta. E diminuindo a oferta, com uma demanda razoável, o preço não tem como segurar.”

Foto: Max Pixel/Creative Commons

 

Fonte: Globo Rural