Exportações de café batem recorde em 2022

17 de janeiro de 2023

Cotações mais elevadas e dólar acima de R$ 5 levaram as exportações brasileiras de café em 2022 a bater recorde em receita, com aumento de 46,9%, mesmo com uma queda de 3,1% no volume na comparação com 2021.

A receita cambial de janeiro a dezembro atingiu US$ 9,23 bilhões ante os US$ 6,28 bilhões do ano anterior. Em volume, foram embarcados 39,350 milhões de sacas de 60 kg. Os números foram divulgados nesta segunda-feira (16/1) pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Considerando apenas os primeiros seis meses da safra 2022/23, de julho a dezembro, as exportações renderam US$ 4,576 bilhões, uma queda de 1,7% em volume e aumento de 31,5% em receita. Para os próximos seis meses, a tendência, segundo o presidente do Cecafé, Paulo Ferreira, é de recuo nos embarques devido à queda das cotações nas bolsas de Nova York e Londres.

O dirigente diz que o Brasil pode até manter a média de exportações de 40 milhões de sacas no ano-safra, mas vai depender da cotação do café. O preço médio da saca, de US$ 234,64, foi o maior nos últimos cinco anos, com aumento de 52% sobre o ano anterior, mas decaiu a partir de setembro.

A queda de volume em 2022, segundo Ferreira, se deu por conta dos gargalos logísticos, desafios internos e externos por crises geopolíticas, com destaque para a guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em fevereiro, e dos impactos climáticos da seca e geadas que atingiram os cafezais em 2021.

“Os entraves logísticos vêm diminuindo de forma gradativa, mas ainda estamos distantes da normalidade, enfrentando disponibilidade reduzida de contêineres, dificuldades para obter bookings, rolagens de cargas e custos elevados.”

O tipo arábica foi o mais exportado no acumulado de 2022, com a remessa de 34,077 milhões de sacas ao exterior, ou 86,6% do total, seguido pelo café solúvel (9,5%), o canéfora (robusta + conilon), com 3,8% e o produto torrado e torrado e moído, com 0,1%.

O relatório do Cecafé mostra uma queda de 60% nas exportações do canéfora em 2022. Isso ocorreu, segundo o órgão, porque o conilon teve papel importante no mercado interno, atendendo à demanda nacional de incremento dos blends, permitindo uma maior exportação do arábica e também do café solúvel, que tem maior valor agregado.

Compradores

Com embarques para 122 países, o Brasil se mantém como maior produtor e exportador global. Dos dez principais destinos, apenas o Japão apresentou recuo em 2022, com 2,873 milhões de sacas, uma queda de 25,5%. Estados Unidos, o maior importador do café brasileiro com 20,3% do total, recebeu quase 8 milhões de sacas, um aumento de 2,1% em relação ao ano anterior.

Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, destacou o crescimento das exportações para países que demandam café com produção mais sustentável, como o Canadá, com alta de 3%. As exportações para a Colômbia, grande exportadora, e para a Argentina, que enfrenta grave crise econômica, também cresceram respectivamente 48,1% e 7%. “O governo argentino tentou limitar as importações, mas o consumidor não aceitou e manteve o hábito do cafezinho, mesmo com crise.”

Outro destaque foram os embarques para a China, tradicional consumidor de chá que vem elevando gradativamente o consumo de café. O país asiático adquiriu 414.842 sacas do produto no ano passado, apresentando uma evolução de 21,3% na comparação com as 341.898 sacas importadas um ano antes.

Já o destaque negativo foram as exportações para a Rússia que, impactadas pela guerra, caíram quase 50%, passando de 1,217 milhão de sacas em 2021 para 650.174 sacas em 2022.

Houve também uma queda significativa em volume, com aumento de receita, na exportação de cafés diferenciados, aqueles que possuem qualidade superior ou alguma certificação de práticas sustentáveis. Foram embarcadas 6,703 milhões de sacas, redução de 12,6% em relação às 7,669 milhões de 2021. O preço médio do produto ficou em US$ 281,26 por saca, com receita de US$ 1,885 bilhão nos 12 meses, o que corresponde a 20,4% do obtido com os embarques totais. No comparativo anual, o valor é 18,5% maior do que o apurado em todo o ano anterior.

Tendências e demandas

Ferreira diz que o cenário para 2023 ainda é de muita dificuldade logística para todos os setores, mas cargas embarcadas em contêineres, como o café, são mais impactadas. Ele acredita que as exportações podem ter uma queda de 2 milhões de sacas, mas alerta que os embarques de conilon, com alta demanda no mercado internacional, maior estoque de passagem dos últimos anos e aumento de produtividade com mais uso de tecnologia, podem surpreender.

Os dirigentes do Cecafé disseram que já tiveram um primeiro contato com o novo governo federal e também com o governo paulista e devem expor nos próximos meses as necessidades de expansão da estrutura portuária e da infraestrutura de transportes para avançar nas exportações.

Foto: REUTERS/Juan Carlos

 

Fonte: Globo Rural