Exportação de frutas do Brasil cresce 2% no 1º trimestre

25 de abril de 2022

Mesmo com mais desafios da logística global, que inclui a guerra entre Rússia e Ucrânia e os novos fechamentos de portos chineses, as exportações de frutas frescas brasileiras atingiram 250 mil toneladas no primeiro trimestre deste ano na comparação com o período de janeiro a março de 2021, um crescimento de 2% em volume. Já o faturamento se manteve estável em US$ 196 milhões, segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).

O destaque foi o limão, com volume embarcado 20% maior. A manga, fruta mais exportada em 2021, registrou aumento de 9% em volume no trimestre, mas queda de 8% em valor. Isso porque houve perda de qualidade devido às chuvas intensas que atingiram a região do Vale do São Francisco, principal polo de produção. Também prejudicada pela chuva, a uva perdeu 59% em volume de exportações e 61% em receita. A maçã, com quebra de produção causada pela estiagem no sul, teve queda de 52% em volume e 56% em valor.

A guerra no leste europeu causou uma queda brusca nas exportações para a Rússia, em março. O país foi o terceiro destino das maçãs brasileiras em 2021, depois de Indonésia e Bangladesh. Em março deste ano, os embarques despencaram para 719,5 toneladas, sendo 84,6 mil toneladas de maçãs. No mesmo mês no ano passado, foram enviados diretamente para os russos quase 5 mil toneladas de frutas, sendo 4 mil toneladas de maçãs.

No trimestre, o volume total exportado para a Rússia caiu de 6,76 mil toneladas para 2,72 mil toneladas. Os números são da plataforma Agrostat, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Jorge de Souza, diretor técnico da Abrafrutas, diz que as exportações diretas para a Rússia, que somaram cerca de US$ 25 milhões em 2021, foram quase 100% suspensas em março devido à guerra e às sanções impostas por Estados Unidos e União Europeia, que dificultam o pagamento pelas cargas. O país recebe também frutas brasileiras de forma indireta, via Holanda, que faz o transporte por caminhões.

“O Brasil tinha de 10 a 20 contêineres no mar em direção à Rússia quando começou a guerra. A maioria dos armadores exigiu receber o frete do exportador e não do importador, como é usual. Parte acabou sendo desviada para países da Europa”, diz Souza, acrescentando que, embora os embarques para a Rússia estivessem crescendo muito nos últimos anos, o volume ainda é pequeno para impactar as exportações brasileiras.

Segundo o diretor, a guerra é um problema para todos os exportadores porque cria um efeito indireto de insegurança alimentar. Mas a logística global é um desafio ainda maior e existe uma grande apreensão do setor, porque a China não dá sinais de mudar a rigidez das medidas anti-Covid, o que eleva a indisponibilidade de navios e contêineres, aumenta o transit-time (intervalo para entrega da carga ao importador). Com a situação, a fruta sofre, perde qualidade e fica mais suscetível à competição por mercados.

O preço do frete é outro problema. Souza afirma que o Brasil pagava cerca de US$ 1.500 a US$ 1.800 para enviar um contêiner de Santos para a Europa. Hoje, o valor chega a US$ 5.500 e o aumento não é distribuído entre todos os elos da cadeia. “O consumidor, por exemplo, seja brasileiro ou o europeu, não aceita pagar mais pela fruta e não compra ou diminui o consumo.”

Outro agravante para o setor é que o preço dos contêineres refrigerados necessários para o transporte das frutas se tornou igual ao do sem refrigeração, o que acarreta uma competição maior por transporte, já que os armadores preferem levar contêineres que não demandam mais trabalho ou gastos com energia. “Lidamos, então, com cancelamento de navios, mudança de rotas e, muitas vezes, o exportador só fica sabendo em cima da hora dessas mudanças e tem que ter muita agilidade para resolver o problema.”

Também preocupa a questão cambial. Com a valorização do real frente ao dólar neste ano, a fruta brasileira perde competitividade e espaço diante de outros países exportadores que não têm que pagar tarifa de exportação ou têm tarifação menor que a do Brasil.

Mesmo diante de todos esses problemas, diz Souza, nenhum exportador está em crise profunda ou desistiu de vender para o exterior, porque, além de gerar divisas para o país, a exportação anual média de 1,2 milhão de toneladas de frutas equilibra os preços e permite um desenvolvimento maior da tecnologia para atender mercados diferentes.

Feiras e novos mercados

A participação em feiras é uma das estratégias do setor para alavancar as exportações e fazer o país, que é o terceiro maior produtor mundial de frutas, sair da posição de 23º exportador para o top ten do ranking. No ano passado, com dólar em alta, o Brasil finalmente rompeu a barreira do US$ 1 bilhão de exportações, mas há espaço para crescer. O Chile, por exemplo, exporta mais de US$ 6 bilhões em frutas.

Neste ano, a Abrafrutas avalia ser possível chegar a US$ 1,2 bilhão, mas vai depender da logística global e do ritmo das exportações no segundo semestre, quando é maior o volume embarcado.

No início de abril, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a Abrafrutas participou da Fruit Logistica, a maior feira de frutas do mundo, em Berlim (Alemanha). Cerca de 50 empresas brasileiras estiveram representadas no estande de 418 m² do Brasil, com destaque para produtores de manga, uva, melão, limão, maçã e mamão, frutas que lideram o ranking das exportações.

O diretor-técnico da Abrafrutas diz que, embora tenha tido menos visitantes em relação à última edição, em 2019, a feira alemã gerou muitos negócios para os exportadores brasileiros e o estande nacional, que contou com dois chefs brasileiros comandando uma área de “cooking demonstration”, esteve lotado todos os dias. “Foram gerados US$ 80 milhões. Nos próximos 12 meses, os negócios nascidos na Fruit Logistica devem render de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões.”

Outra estratégia para alavancar as exportações é a abertura de novos mercados. Segundo Souza, além do recém-aberto mercado do Chile para o limão, está na fase final das negociações a abertura de exportações do abacate do tipo hass para os Estados Unidos, da uva para China e Coréia do Sul e do mamão e abacate para o Chile.

A China, destino dos sonhos do setor devido à escala, já abriu seu mercado para a primeira fruta brasileira, o melão. Foram enviados alguns contêineres, mas a pandemia atrapalhou a logística e novos embarques. “O melão não tem um tempo de prateleira tão longo que permita chegar à China atualmente em tempo hábil, já que o transit-time que era de 35 a 38 dias passou para 45 a 60 dias. E fica inviável exportar melão de avião.” A expectativa é que a uva, com um shelf life maior que o do melão, tenha um caminho mais fácil.

Foto: REUTERS/Aly Song/File Photo

 

Fonte: Globo Rural