Esperada para abril, colheita de café conilon deve atrasar no Espírito Santo

10 de abril de 2023

Após safra recorde no Espírito Santo, em 2022, o maior produtor de conilon do Brasil deve atrasar a colheita para tentar driblar as consequências de uma forte estiagem ano passado, que afetou o engate dos trabalhos da safra 2023/24, esperados para abril.

Embora alguns produtores tenham iniciado a retirada de grãos em alguns talhões, esta não é a realidade dos mais de 7.300 cafeicultores de conilon do Estado. Os agricultores preferiram adiar para a segunda quinzena de abril e para maio, porque, além da seca e do surgimento de pragas, enfrentam falta de mão de obra.

Para a cafeicultora de São Gabriel da Palha (ES), Fabíola Colombi, esta deve ser uma “colheita mediana”, sem aumento significativo da produção. Ela conta que os grãos da safra 2023/24 ainda estão verdes.

“De maneira geral, as lavouras ao final de 2022 sofreram com o período de estiagem pós-safra, entre julho e outubro, e com isso tivemos um tempo mais frio na região, fazendo com que elas ficassem mais propícias a pragas, como a ferrugem, desfolhando os cafés. Com isso, não tivemos uma floração tão boa com o poder vegetativo propício ao grão”, explica à Globo Rural.

O café plantado nos 70 hectares de Fabíola é comercializado pela Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), a maior de café conilon do Brasil. Parte das sacas abastece o consumo interno, enquanto a outra segue para exportação, especialmente para Colômbia e França.

Diferentemente do arábica, o conilon é mais rústico e tem grande teor de cafeína. A espécie vem ganhando espaço ao ser promovida por seus produtores como bebida de alta qualidade, atributo que para ser mantido não pode contar com a colheita do grão verde para que não se tenham prejuízos ao aroma e textura característicos desse tipo de café.

É o que detalha à Globo Rural o presidente da cooperativa, Luiz Carlos Bastianello. “As lavouras que produziram recorde em 2022 podem esperar queda certa para este ano. A gente estima que elas teriam uma quebra de 30% em relação ao mesmo plantio do período passado. Mesmo assim, é preciso levar em consideração 10% de lavouras novas que irão produzir em 2023. Considerando esse percentual a mais, nós devemos ter uma safra total bem próxima daquilo que produzimos em 2022, equilibrando a queda de produção”, indica Bastianello.

“A recomendação da Cooperativa é deixar a colheita entre a segunda quinzena de abril e maio, quando se espera ter 80% dos grãos maduros”, diz o presidente. Como a safra tem duração de 45 dias, a retirada terá de ser mais rápida a partir de seu início para evitar que o grão seque ou seja atingido por pragas, como a broca-do-café.

De acordo com Bastianello, a falta de mão de obra e a necessidade de capitalizar podem fazer com que o produtor se antecipe, prejudicando a qualidade do produto.

O atraso na colheita também é a realidade de Jandir Jeferson, cafeicultor do município de Nova Venécia (ES). Para ele, a seca foi a principal inimiga. “Mesmo com irrigação para estimular a florada, faltou chuva. Pegamos ventos fortes e frio, perdemos bastante folha e a expectativa de safra deste ano será 30% a menos do que a passada”, afirma.

Por outro lado, postergar a retirada do conilon traz esperança ao agricultor familiar de colher um maior número de grãos de qualidade, que se beneficiaram das chuvas de novembro, dezembro e janeiro.

De acordo com o levantamento da Cooabriel, em 2022, a recepção de safra alcançou um recorde histórico de 2.043.928 sacas, um aumento de 33% em relação a 2021.

Mesmo com as dificuldades já antecipadas, para 2023 a expectativa é de que o acréscimo no quadro social da cooperativa ajude a safra a superar o índice anterior.

Escassez de mão de obra

Fabíola conta que a falta de pessoas para trabalhar no campo exige muito de quem planta. “Além de contratar gente de fora do Estado, como Bahia e Alagoas, é preciso compreender as exigências da legislação trabalhista para a contratação temporária e prever despesas de acomodação e alimentação, o que aumenta muito o custo de produção”, acrescenta.

Segundo a produtora, o problema tem feito com que muitos produtores prefiram investir na mecanização da colheita. Os que não podem por conta dos terrenos que não são propícios ao maquinário, pagam mais para ter gente, especialmente na época da colheita.

Volatilidade nos preços

Segundo nota divulgada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), após os preços recuarem no mercado interno nas três primeiras semanas de março, houve reação no final do mês, quando voltaram a subir. A última cotação, de quarta-feira (5/3) foi de R$ 651,14 a saca de 60kg.

Os pesquisadores do Centro atribuíram a baixa nas primeiras semanas de março à retração das compras por parte de muitas indústrias nacionais e à queda nos valores externos.

Enquanto as recentes altas acontecem em função do retorno da demanda ao spot nacional. Os preços da variedade também subiram no Vietnã, levando exportadores a atuarem com mais força no mercado brasileiro.

Para o presidente da Cooabriel, se a maioria dos produtores colherem o café no momento oportuno, haverá a manutenção de qualidade e os preços podem se manter. No entanto, uma preocupação da cooperativa é o consumo de café mundial, que pode afetar o volume das exportações.

Ele relembra que a expectativa de consumo divulgada no início do ano pela Organização Internacional do Café (OIC) está em torno de 1,5%, menor do que a expectativa do Estado, acima de 2%.

“Essa quebra de consumo gera uma preocupação e, automaticamente, os preços não devem ser tão bons como gostaríamos que fosse”, destaca.

No ano passado, o preço pago ao produtor por saca foi de aproximadamente R$ 720 e, este ano, a projeção é de R$ 620. “É uma queda bastante significativa. Com isso, o que temos visto é uma volatilidade de preço muito grande. E esse comportamento do mercado começou há dois anos”, reitera.

De acordo com o 1º Levantamento da Safra de Café 2023, divulgado em janeiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no Espírito Santo, a área em produção em 2022 foi de 259,174 hectares, o que rendeu cerca de 47 sacas por hectare. Para este ano, a previsão é de 261,921 hectares e 43,8 saca por hectare.

Foto: Ernesto de Souza/Globo Rural

 

Fonte: Globo Rural