Embargo da China à carne bovina completa dois meses e perdas no setor podem passar de US$ 1 bilhão

4 de novembro de 2021

O embargo da China à carne bovina brasileira completa dois meses. Imposto depois da confirmação de dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) no país, doença conhecida como “mal da vaca louca”, o bloqueio já levou a uma desvalorização de 11,8% no valor da arroba bovina no último mês e à primeira queda no preço médio das carnes no mercado interno em 16 meses, segundo o IPCA-15, a prévia da inflação oficial.

A expectativa inicial era de uma retomada breve dos embarques. Mas, com dois meses de embargo, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estima um prejuízo de até US$ 1,8 bilhão se as exportações continuarem suspensas até dezembro. E a situação permanece um incógnita para o setor, afirmam analistas de mercado.

“A gente sempre tentou definir alguma data pra que tivesse alguma esperança, mas depois de tanto tempo vamos ter que aguardar, mesmo, algum anúncio oficial sobre o tema”, observa o analista de pecuária da StoneX, Caio Toledo, ao ressaltar que o prejuízo gerado pela ausência chinesa atinge toda a cadeia pecuária do país. “Não sabemos de fato o que está acontecendo e, como não sabemos o fato, cada um acaba tendo sua suposição e a sua história. Mas acabam sendo sempre suposições ou narrativas”, observa o analista.

A suspensão mais longa que o Brasil já enfrentou em suas exportações para a China devido a um caso atípico de mal da vaca louca durou cerca de dois anos, lembra o analista da Scot Consultoria, Rafael Suzuki. O caso, ocorrido em 2010 no Paraná, levou dois anos para ser confirmado. “Vale ressaltar que, nesse período, a China, por mais que ela tenha suspendido a importação de carne bovina, a gente notou um expressivo aumento de exportação de carne bovina brasileira para Hong Kong naquele período”, explica o analista.

O mesmo não ocorre este ano. De acordo com números da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, as exportações brasileiras de carne bovina em outubro registraram queda de 49,5% em outubro, com 82,2 mil toneladas, após um recorde em setembro. O volume, estimado em 218.529 toneladas pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), refletiu os embarques do produto já certificado, mas represado nos portos brasileiros devido à crise logística internacional. Há mais de 110 mil toneladas de carne pendentes de liberação das autoridades chinesas para entrar no país.

“Não se sabe o destino, se a China vai aceitar ou não. Até o momento ela não aceitou essa carne. Então estamos com mais essa incógnita, que é um volume estimado em mais de 110 mil toneladas de carne bovina”, destaca Suzuki.

Foto: REUTERS/Paulo Whitaker

 

Fonte: Globo Rural