Café torrado subiu 35,4%, mas indústria diz que ainda falta repassar 23%

3 de março de 2023

O preço do café torrado subiu 35,4% de janeiro a dezembro de 2022, enquanto a cesta básica subiu 9,1%. O aumento foi menor que os 51,1% registrados em 2021, mas a indústria diz que ainda não repassou ao consumidor toda a elevação de custo da matéria-prima dos últimos dois anos.

Em coletiva, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Pavel Cardoso, disse que não vê espaço para a queda de preços do café no varejo neste ano porque ainda falta um repasse de 23%, fora os 10% de aumento que a matéria-prima já teve em 2023.

Presidente da Abic não vê espaço para queda de preços do café no varejo neste ano
“As contas ainda não se equilibraram. O café cru, que representa de 65% a 75% do preço total do produto, subiu mais que o preço no varejo e ainda tem os aumentos de outros insumos. Não dá ainda para prever se as indústrias vão fazer o repasse do que falta porque isso depende do tamanho da safra, que não está definido, de outras questões como o câmbio e da estratégia comercial de cada empresa.”

Segundo a primeira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra em 2023 aponta para 54,94 milhões de sacas de café, aumento de 7,9% em relação às 50,9 milhões de sacas colhidas em 2022, na safra impactada fortemente por seca e geadas.

Consumo cai

No ano passado, segundo o diretor-executivo da Abic, Celírio Inácio da Silva, o consumo per capita do café torrado e moído registrou queda de 1,61%, de 4,84 kg para 4,77 kg, mas o faturamento do varejo subiu de R$ 22,56 bilhões para R$ 30,565 bilhões.

A redução no consumo é creditada à inflação. Inácio afirma que a curva era de crescimento, mas houve uma desaceleração nos últimos meses do ano porque o consumidor já estava impactado pela inflação do primeiro semestre.

Consumidor tomou menos café nos últimos meses de 2022 porque já estava impactado pela inflação do primeiro semestre
O presidente da Abic diz que a expectativa para este ano é de recuperação e crescimento do consumo per capita. Ele ressaltou que, em 1989, quando a entidade começou a medir, a média era de apenas 2 kg e os consumidores relacionavam o café vendido no Brasil como de pior qualidade em relação ao exportado. Desde então, a indústria investiu para melhorar o café e conquistar os vários tipos de consumidores.

Segundo Cardoso, a portaria 570 que entrou em vigor em janeiro deste ano veio dar mais elementos para o beneficiamento de cafés com mais qualidade, na medida em que regulamenta o padrão oficial de classificação do produto torrado, considerando seus requisitos de identidade e qualidade.

As indústrias têm até julho de 2024 para se adequar. A partir daí, cafés com nota sensorial abaixo de 4,5 no Programa de Qualidade do Café (PQC) terão que ter no rótulo da embalagem a informação de café fora de tipo e o ponto de venda será corresponsável em casos de fraude.

Foto: Globo Rural

 

Fonte: Globo Rural