Brasil tem dificuldades em rastrear carne bovina

24 de agosto de 2022

O consumidor está mais exigente e quer mais informações sobre os alimentos que consome. Com isso, cada vez mais a rastreabilidade dos produtos vem ficando importante, não só para quem consome, mas também para as empresas distribuidoras. Na prática, isso quer dizer que é possível, por exemplo, comprar uma carne bovina na França e saber que o animal foi criado nos pastos brasileiros.

Quando se fala sobre o cenário dessa tecnologia na pecuária, a rastreabilidade de suínos e aves está mais avançada. Frangos e porcos tem a sua produção de forma muito intensiva. O criador compra a genética de uma empresa, coloca o animal em uma granja fechada e ele só sai daquele espaço para o abate.

No caso da carne bovina, a situação é mais complexa. Entre o nascimento e abate, o animal pode passar por diversas fazendas. Algumas só produzem os bezerro, outras engordam os bois. Por conta da dinâmica complexa, a rastreabilidade torna-se mais difícil e, ao mesmo, não há nenhuma lei que obrigue o produtor a identificar os animais.

O Brasil até possui uma plataforma oficial para fazer essa organização, o Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (SISBOV), que foi criado há 20 anos, mas reúne menos de 1% do número total de criadores.

Considerando todas as outras soluções que existem de rastreabilidade para carne bovina – incluindo, por exemplo, os brincos e coleiras eletrônicas -, é possível identificar apenas 20% de sua produção nacional. Isso quer dizer que 80% das carnes bovinas não tem rastreabilidade e, portanto, não se sabe por onde passou esses bois.

Isso representa um problema, pois, hoje, o Brasil exporta 30% de quase de tudo que produz. Na época em que o SISBOV foi desenvolvido, o país não exportava, então, como se limitava ao mercado interno, os produtores não viam a necessidade de se cumprir essa norma. Vale destacar que a adesão ao sistema, a princípio, seria obrigatória, mas, após reclamações dos criadores sobre o alto custo para se fazer o rastreamento, tornou-se voluntária.

É interessante pontuar que, além da rastreabilidade cumprir as exigências dos consumidores, ela também permite ao produtor faturar mais. Com as informações sobre os animais disponíveis, ele consegue ter uma uma análise da performance de cada indivíduo no sistema, verificando cada uma de suas características, otimizando, assim, a gestão de sua atividade e diluindo custos desnecessários.

Um estudo da Radar Verde mostra que, em média, o produtor gasta de R$ 6 a R$ 20 por cabeça pra fazer esse sistema de rastreio, mas, por outro lado, ganha também, uma média de R$ 70 a mais do comprador pela valorização da carne com certificação

Trata-se de uma questão que tem a ver com o mundo moderno e mudança nas exigências das pessoas, que agora querem saber o que estão consumindo, mas também pode ser um caminho para a sustentabilidade da produção pecuária no Brasil.

Com as novas gerações chegando ao agro e a pressão cada vez maior, principalmente das empresas compradores, pela rastreabilidade, essas tecnologias têm ganhado espaço. Apesar de ainda ser vista como uma quebra de paradigma cultural, a busca é crescente entre os produtores.

Foto: REUTERS/Paulo Whitaker (BRAZIL)

 

Fonte: Globo Rural