Brasil planeja liderar mercado mundial de algodão na próxima década

17 de agosto de 2022

Quarto maior produtor mundial e segundo maior exportador de algodão, o Brasil espera alcançar a liderança do mercado global na próxima década, diante das perspectivas de um aumento de 3 milhões de toneladas no consumo global da pluma e da limitação de área de seu principal concorrente, os Estados Unidos. A previsão foi divulgada durante a abertura do 13º Congresso Brasileiro do Algodão, em Salvador, Bahia, Estado que concentra a segunda maior produção do país.

“O Brasil é o único país do mundo que tem condição para atender essa demanda. Temos terra, clima, tecnologia, vontade e, principalmente, pessoas para fazer isso, que são os agricultores”, destacou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Júlio Cézar Busato.

Segundo ele, a área plantada deve chegar a 1,7 milhão de hectares, com produção de até 3 milhões de toneladas na safra 2022/23 que será colocada no campo apenas no ano que vem. O avanço, ressaltou, ocorrerá mesmo diante do forte aumento de custos e redução das margens nos últimos anos.

“Era uma escolha entre plantar e não plantar e nós temos que olha para o futuro. E o futuro, se nós quisermos ser os maiores exportadores e produtores mundiais de algodão, precisamos manter o mercado que nós conquistamos”, disse, ressaltando as qualidades da pluma brasileira quando comparada a seus principais concorrentes. “Nós não queremos conquistar mercado vendendo algodão mais barato porque nosso algodão, na média, é melhor em termos de comprimento de fibra, resistência de fibra e micronaire – que são as três característica mais importantes do algodão – do que o algodão americano”, pontuou Busato.

Apesar da melhor qualidade, o preço do algodão brasileiro chega a ser 5% inferior ao pago pela pluma americana, uma situação que o setor está determinado a mudar a partir do ano que vem, quando entrará em vigor um programa de certificação oficial comandado pelo Ministério da Agricultura.

“Quando eu ia nas missões visitar indústrias, principalmente na Ásia, a grande pergunta que os clientes nos faziam era: ‘quem garante que eu vou receber aquele fardo que aquela amostra foi retirada?’. Antes não tínhamos quem garantisse. Hoje nós temos, e quem garante é o nosso Ministério da Agricultura. Então, isso nos equipara com o algodão americano”, explicou o presidente da Abrapa.

No início deste mês, as primeiras habilitações para a certificação de conformidade oficial do algodão brasileiro foram dadas às algodoeiras da Fazenda Pamplona, do Grupo SLC Agrícola, e da GM, do Grupo Moresco, ao laboratório de HVI do estado de Goiás e para o Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA), localizado em Brasília. As entregas ocorreram durante evento de encerramento da Missão Compradores Cotton Brazil 2022, em Brasília (DF), que trouxe ao País industriais do setor têxtil de seis países: Turquia, Vietnã, Paquistão, Coreia do Sul, Bangladesh e México para conhecer como é produzido e beneficiado o algodão brasileiro.

“Quando o algodão green card (certificado americano) entra na China, não é reanalisado pelo ministério da agricultura da China. Entra direto. E é isso que nós queremos também e já fizemos até acordos de intenções com dois orgãos chineses que representam 95% das importações da China para que, quando a gente tenha a nossa certificação, caminhe para ter o nosso bluecard também. E aí termos o mesmo tratamento que os nossos colegas norte-americanos”, previu Busato.

De acordo com o ministro da Agricultura, Marcos Montes, o governo está pronto para iniciar as certificações oficiais a partir do ano que vem, quando o programa entrará oficialmente em vigor. “Hoje estamos aptos a certificar e já estamos fazendo isso. E é uma alegria para nós primeiro porque abre mais mercados, ainda consolida o mercado e segundo poque leva uma imagem que, repito, o Brasil às vezes tem mais dificuldade de levar a realidade do que vivemos aqui e o algodão está levando essa realidade lá fora”, observou.

Montes destacou ainda o trabalho da cadeia do algodão quando o assunto é comunicar a sustentabilidade da sua cadeia produtiva, comparado aos demais segmentos agropecuários, ainda associados a desmatamento, trabalho análogo à escravidão e outros problemas socioambientais.

“Esse é um assunto que precisamos avançar, chamar nossos produtores. Temos um dever de casa a fazer ainda, ninguém nega isso, já há ações do governo sendo feitas para isso, a regularização fundiária é uma delas, mas a grande maioria desde o código florestal implementado é mostrar ao mundo a nossa sustentabilidade, a potência que nós somos também ambiental. Mas o algodão, para nossa alegria saiu na frente e puxa conosco às vezes o entusiasmo das outras cadeias também se colocar dessa forma”, pontuou o ministro.

O sucesso na divulgação da sua sustentabilidade e os avanços para o reconhecimento da qualidade da fibra produzida no país, contudo, estão longe do ideal buscado pelos cotonicultores brasileiros. Na avaliação de Busato, atingir a meta de se tornar o maior exportador mundial na próxima década ainda depende de muito trabalho, sendo a certificação oficial apenas o primeiro passo.

“O principal desafio é nós nos organizarmos melhor. Nós temos os nossos programas, estamos avançando e hoje ocupamos 20% do mercado mundial quando há cinco anos não éramos nem exportador de algodão. O Brasil dobrou a produção nos últimos cinco anos e nos tornamos o segundo maior exportador, porém precisamos melhorar ainda mais e esse é um trabalho que a Abrapa e as associações estaduais estão fazendo junto com os agricultores”, reconhece o presidente da Abrapa.

Foto: Lindsey Turner/CCommons

 

Fonte: Globo Rural