Brasil deve habilitar plantas a exportar farelo de soja à China em dois meses

2 de agosto de 2022

O Brasil deve habilitar indústrias exportadoras de farelo de soja para a China em até dois meses. Foi o que afirmou o ministro da Agricultura, Marcos Montes, em entrevista coletiva concedida durante o 21º Congresso Brasileiro do Agronegócio, em São Paulo (SP). Segundo ele, os técnicos do governo farão a inspeção das estruturas das empresas para certificar o cumprimento do protocolo necessário para liberar os embarques.

“São visitas nossas, mesmo. É a nossa equipe técnica com a equipe técnica das indústrias. Não podemos entregar um produto lá fora que possa trazer problema amanhã”, disse Montes, depois de participar da cerimônia de abertura do Congresso.

Também em conversa com jornalistas, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, explicou que, nesse período de dois meses, é possível que exista apenas uma lista de empresas habilitadas para embarcar o farelo de soja para a China. No entanto, a efetivação dos primeiros embarques deve ficar apenas para 2023.

“A negociação foi longa. Os chineses queriam habilitar por lá e o Ministério da Agricultura (MAPA) negociou para habilitar aqui. O MAPA vai habilitar. Se a planta estiver seguindo todos os requisitos, exporta”, detalhou.

Nassar disse que o Ministério da Agricultura não informou um cronograma das inspeções. Explicou ainda que existem há alguns aspectos a serem tratados na habilitação das indústrias. Um deles é a garantia de que apenas soja brasileira seja usada na fabricação do farelo. Com isso, plantas que trazem matéria-prima do Paraguai, por exemplo, tendem a não ser certificadas.

Outro aspecto é a prevenção contra a ocorrência de contaminação pela bactéria salmonella nas cargas. Segundo o presidente da Abiove, não é comum no farelo de soja, mas pode ocorrer. Para evitar isso, as empresas terão que fazer o controle do produto até o embarque, o que pode elevar o peso e o custo da rastreabilidade no processo de exportação.

“O controle até o embarque já é feito na exportação para a Europa, que não aceita carga com salmonella”, disse Nassar. “O peso da rastreabilidade vai aumentar. É mais custo e isso vai se refletir no preço do farelo, mas não aponto de ficar inviável. Dependendo do preço, pode cobrir ou não esse custo”, acrescentou.

Flexibilidade

Nassar lembrou que, como um grande demandante de soja em grão, a China tem uma grande capacidade de esmagamento. Com a abertura do mercado para o farelo do Brasil, o comprador fará a conta para saber qual produto é mais vantajoso. Se o grão estiver com cotações em patamares elevados a ponto de reduzir as margens da indústria local, a opção será pelo farelo.

Do lado brasileiro, o presidente da Abiove explicou que é o dia a dia que vai apresentar as oportunidades. A depender da demanda dos chineses e das condições do mercado, a indústria pode ser mais ou menos demandada pelo farelo, podendo ser embarcados maiores ou menores volumes a cada safra.

“A gente vai trabalhar com mais flexibilidade, o que é bom para todo mundo, independentemente do tamanho dessa demanda”, afirmou.

Segundo ele, atualmente, a indústria de soja processa cerca de 48 milhões de toneladas do grão. A capacidade instalada permite expandir esse volume para até 55 milhões de toneladas. Essa diferença representaria em torno de 4 milhões de toneladas a mais de farelo somadas a uma produção que gira em torno dos 36 milhões de toneladas.

“Não estamos falando em pegar farelo que já está no mercado interno. Estamos falando em aumentar o processamento. Se o biodiesel passar para B15 no ano que vem, vamos processar tudo isso aí”, sinalizou Nassar, ressaltando, no entanto, que uma discussão sobre a mistura do biocombustível no diesel fóssil deve ocorrer apenas depois das eleições.

Milho

Marcos Montes reafirmou ainda que tem a expectativa de conseguir exportar milho da safra 2021/2022 para os chineses, com início dos embarques ainda neste ano. Segundo o ministro da Agricultura, as conversas entre técnicos dos governos do Brasil e da China estão avançando para atender à demanda do país asiático que, de acordo com ele, é imediata.

“O protocolo era para exportar no ano que vem, mas houve um pedido para a gente analisar para que seja exportado já imediatamente. Estamos analisando e acho que vamos conseguir atender esse pedido, um pedido dos próprios chineses, para embarcar ainda este ano”, disse ele.

Foto: CCommons

 

Fonte: Globo Rural