Aves e suínos: custos altos no campo refletem no preço das ceias do fim de ano

21 de dezembro de 2022

“Um sucesso”. É assim que o empresário Tonimar Ribeiro Severiano, do Buffet Toko, de Ponta Grossa (PR), define as carnes que compõem o cardápio que já é tradição nas ceias de fim de ano: chester, peru, leitão e pernil. As aves natalinas recheadas e os cortes suínos especiais são o carro-chefe das opções de ceias oferecidas pelo buffet.

Segundo Toko, que atua há mais de 15 anos no setor de eventos, as carnes representam mais de 50% do valor total da ceia e, neste ano, o custo disparou. “O preço aumentou muito. O quilo do leitão está, em média, entre R$ 26,00 e R$ 28,00. Já o peru temperado está em torno de R$ 110,00 a unidade”, comenta. Além disso, as carnes são recheadas e decoradas com produtos que completam o menu festivo, como fios de ovos, cereja, frutas secas, enlatados e cogumelos.

Apesar dos valores mais altos, a agenda do buffet para encomendas foi fechada duas semanas antes do Natal. Para não assustar os clientes, Toko diz que teve que reduzir os ganhos: “o lucro diminuiu muito”.

A alta nos valores dos produtos, identificada pelo dono do buffet, é confirmada pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), que mostra que as cestas de Natal tiveram aumento de 10,79%, passando de R$ 346,41 em 2021 para R$ 383,80 em 2022. O quilo do peru foi o destaque, com aumento de 16,48% no período.

Supermercados otimistas

Apesar do preço mais alto, a maior parte dos supermercados espera vender mais este ano, em comparação com o ano passado. Pesquisa de Natal promovida pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) com empresas em todas as regiões do país, aponta que 66% dos estabelecimentos projetam crescimento, 27% esperam o mesmo patamar de vendas e 7% estimam queda em relação a 2021.

Marcio Milan, vice-presidente da Abras, comenta que as vendas no período se concentram principalmente em dois grupos de produtos: bebidas e carnes. Para as bebidas, a expectativa é de 12,5% de crescimento no consumo. Já para as carnes, a projeção é vender 11,2% a mais do que no ano anterior.

“Estão incluídos nesse grupo todas as aves natalinas – como peru, chester e frangão -, suínos – como lombo, pernil e tender -, além de carnes bovinas e bacalhau, que também costumam ter bastante procura nesta época do ano”, enumera.

Alguns dos fatores que justificam as projeções positivas para o setor, segundo Milan, são os novos trabalhadores com carteira assinada e 13º salário no bolso, novos beneficiários de programas sociais do governo e o recuo da inflação. “As pessoas sabem que vão receber e, assim, têm melhor previsibilidade do que podem consumir”, considera.

Pesquisa de preços

O Procon-SP orienta o consumidor para que pesquise os preços antes de comprar, tendo em vista a diferença de valores entre um estabelecimento e outro. Pesquisa realizada pelo órgão em sete supermercados da capital paulista mostra que o pacote de 700g da costela suína congelada (peça com osso), da Gran Corte, teve diferença de até 27,14% no preço, sendo o menor valor de R$ 24,69 e, o maior, de R$ 31,39.

O chester tradicional da Perdigão, por sua vez, registrou variação de até 7,99%, sendo encontrado por R$ 29,90/kg em um dos estabelecimentos e por R$ 32,29/kg em outro. Já o peito de peru temperado (sem osso), da Sadia, teve variação de 5,26%, com preços variando de R$ 56,99/kg a R$ 59,99/kg.

A coleta de preços foi realizada de forma remota, nos dias 30/11 a 2/12 e 6/12, nos sites dos supermercados Andorinha, Carrefour, Clube Extra, Kanguru, Mambo, Pão de Açúcar e Sonda.

Custo alto no campo

A expectativa de crescimento das vendas nesta época do ano traz um alento para suinocultores e avicultores, que seguem driblando o aumento dos custos de produção. Dados da Embrapa, levantados pela Central de Inteligência de Aves e Suínos (CIAS), mostram que o ICPSuíno aumentou 20% nos últimos 12 meses. O custo de produção por kg vivo passou de R$ 7,00 para R$ 7,99 no período. Em novembro de 2022, o índice fechou em 456,92 pontos.

Já o ICPFrango, que calcula os custos de produção de frango de corte, cresceu 7% nos últimos 12 meses. O custo de produção por kg vivo passou de R$ 5,21 para R$ 5,50. Em novembro deste ano, o índice chegou a 425,37 pontos.

Ari Jarbas Sandi, analista de Transferência de Tecnologia e Economia da Embrapa Suínos e Aves, explica que a alimentação dos animais – composta principalmente por milho e farelo de soja – tem um impacto de aproximadamente 80% no custo de produção. “Desde 2021, o custo dos insumos cresceu exponencialmente, enquanto o preço do animal vivo no mercado evoluiu de modo tímido, o que vem gerando desde então perda de renda para o produtor, principalmente para o suinocultor”, afirma.

Segundo Sandi, a saca de milho representa o maior impacto. “Em um ano, o preço da saca passou de R$ 50,00 para R$ 100,00 para o produtor”, analisa. Outros componentes do ICP – que trata-se de um índice de inflação referente aos custos de produção – são custo de capital, depreciação, mão de obra, manutenção, transporte, etc.

O suinocultor Mauro Antonio Gobbi, de Rondinha (RS), confirma que a atividade foi prejudicada pelo alto custo da produção: “2022 foi um ano terrível para a suinocultura. A seca que tivemos em 2021 no Rio Grande do Sul, a guerra [entre Rússia e Ucrânia], o dólar – tudo isso fez o preço do milho explodir, assim como o do farelo de soja”, enumera o produtor, que é vice-presidente Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS) e integra a diretoria da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).

Gobbi comenta que, no fim do ano, há um incremento nas negociações. “Em dezembro, no mercado interno, temos praticamente o dobro do consumo de carne suína de um mês normal”, avalia. No entanto, considera que a atividade está longe de se estabilizar, tendo em vista que o suinocultor brasileiro ainda contabiliza as consequências da redução da exportação de carne suína para a China. “Não sabemos o que será de 2023 quanto a custos, mercado, exportação”, acrescenta.

Projeções

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, vê com otimismo essa época do ano para suinocultores e avicultores e acredita que a movimentação do período deve gerar em torno de 3% a 5% de aumento nas vendas, em relação ao ano passado. “Visualizamos um processo de recuperação do consumo, com aumento nos níveis de emprego e liberação do auxílio emergencial, o que deve garantir esse crescimento”, afirma.

Ele destaca as aves e os cortes natalinos, com destaque para o peru – que registrou aumento de 30,5% nas exportações, de janeiro a novembro de 2022, em relação ao mesmo período do ano passado -, e projeta estabilidade para o setor de suínos daqui para a frente. “O brasileiro está consumindo mais proteínas e acreditamos na manutenção desse hábito, com crescimento para a carne suína, preservação do alto consumo de frango e, também, de ovo”, considera.

Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), também faz uma projeção otimista para o setor, devido à grande procura para as festas – principalmente no Réveillon, quando há tradição de consumo do produto.

O estado de Santa Catarina é o maior produtor de suínos no país e, segundo o presidente da ACCS, já está sendo identificado um aumento no preço pago ao produtor nas últimas semanas. “Apesar de um ano de dificuldades, já vemos uma recuperação do preço pago ao produtor. O valor já está passando do custo de produção e isso traz ânimo aos suinocultores”, afirma.

Segundo o Cepea-Esalq/USP, os preços pagos pelo kg do suíno vivo variavam entre R$ 6,92 e R$ 7,95 em 20 de dezembro em praças das regiões Sul e Sudeste. A variação positiva em relação a novembro ficou entre 4% e 9,7%.

O setor também espera que a procura pelo produto se mantenha até o início do próximo ano, para a renovação dos estoques dos estabelecimentos de venda ao consumidor. “Até meados de janeiro há uma compra bem interessante”, completa. Lorenzi destaca o aumento gradativo da procura por cortes suínos no país e espera recorde no consumo per capita. “A carne suína é saudável e saborosa e o consumidor brasileiro tem colocado ela na mesa, principalmente pelo preço, mas também pela qualidade e saudabilidade, já que é uma carne magra”, ressalta.

Dados divulgados pela ABPA mostram que o consumo per capita da carne suína aumentou 8% entre 2021 e 2022, passando de 16,7 kg para 18 kg. A previsão para 2023 é de crescimento de até 3%.

Quanto ao peru, o presidente da ABPA explica que o Brasil contava com duas grandes indústrias produtoras, mas, a suspensão de uma delas tirou parte do mercado e reduziu a produção. “A criação de peru está em recuperação. É uma ave que tem um processo de produção mais caro, mais difícil e, ainda, deve ser considerado o fato de o brasileiro não ter o hábito de consumir essa ave, a produção é apenas para atender as festividades natalinas”, explica.

A preferência do brasileiro no dia a dia é o frango, com consumo per capita atingindo 45,1 kg em 2022 e previsão de chegar a 45,5 kg em 2023 – aumento de 0,8%.

Ceia adaptada

Embora tenham planos de mudar o cardápio da ceia de Natal para barateá-la, 85% dos trabalhadores brasileiros pretendem incluir carnes na comemoração, segundo pesquisa realizada com mais de 1.700 pessoas pela Ticket, marca da Edenred Brasil de benefícios de refeição e alimentação.

Além da proteína, os principais itens que devem compor a ceia dos respondentes são frutas e oleaginosas (56%); bebidas (49%); doces (47%) e cereais, como arroz e milho (39%). Quando questionados se pretendem mudar o cardápio das celebrações, a maioria (78%) disse que sim; 47% querem deixá-lo mais barato e 31% desejam apostar em novos pratos e sabores.

Foto: Freepik

 

Fonte: Globo Rural