Áreas protegidas de propriedades privadas podem ser a chave para elevar a biodiversidade

26 de abril de 2023

As áreas de reserva legal e proteção permanente de propriedades rurais privadas do Cerrado brasileiro podem acomodar de 14,5% a 25% dos habitats climaticamente adequados remanescentes para 103 espécies de vertebrados terrestres ameaçados de extinção no bioma, como o lobo-guará, o tamanduá bandeira e a pomba terrestre de olhos azuis.

A conclusão é de um estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renoaváveis (Ibama), da Universidade de Brasília (UnB), da Ong Aliança da Terra, da Universidade de Alcalá (da Espanha) e da Kansas State University (EUA). O trabalho foi publicado na revista científica Science.

A equipe também desenvolveu um modelo de priorização para identificar áreas onde investimentos em restauração em terras privadas poderiam trazer melhores retornos para a conservação da biodiversidade, com destaque para as áreas de Cerrado na região Sudeste.

“Melhorar a compatibilidade com a biodiversidade de propriedades privadas poderia ampliar os benefícios do sistema de proteção existente, aumentando tanto o habitat total disponível quanto a conectividade entre os habitats remanescentes, garantindo a persistência da população e uma biodiversidade mais rica”, diz trecho do estudo.

Por meio de análise do Cadastro Ambiental Rural (CAR), a equipe analisou a distribuição espacial de todas as áreas protegidas privadas de 684.942 propriedades rurais registradas no Cerrado para avaliar seu valor potencial para a conservação das espécies de vertebrados ameaçadas e prever os benefícios potenciais de restaurar totalmente o conjunto.

O artigo destaca que o aumento na quantidade de habitat devido à restauração de áreas protegidas privadas pode aumentar o tamanho da população das espécies e reduzir seu risco de extinção.

Outro resultado esperado da restauração é que o aumento da conectividade entre os habitats remanescentes favoreça a dispersão e a persistência das espécies na paisagem.

Custos e benefícios

Regiões no Estado de São Paulo, o mais afetado pelo desmatamento, merecem destaque no artigo como prioritárias para o esforço de elevar a biodiversidade.

A restauração de uma área de 145.000 hectares de terras privadas protegidas no Estado, que abriga pelo menos 70 espécies de animais, tem seu custo estimado pelos pesquisadores em US$ 60 milhões com base em métodos de regeneração assistida, o que representa apenas 0,02% do valor das exportações do agronegócio brasileiro em 2021.

Outras vantagens da restauração das áreas protegidas privadas seria a captura de toneladas de carbono, o que representa uma contribuição substancial para a meta climática global de 2°C, e a melhora dos serviços de polinização para as principais culturas, como a soja, frutas e outros vegetais.

Foto: Wenderson Araujo/Trilux/CNA

 

Fonte: Globo Rural