Aluguel de colmeias pode ser aliado da produção agrícola e da biodiversidade

3 de abril de 2023

O Brasil é o país com maior população de abelhas na América Latina, usadas, principalmente na produção de mel. Mas esses insetos importantes para o equilíbrio dos ecossistemas pode ir além, como aliadas da produtividade agrícola e da preservação da biodiversidade.

No mundo, colmeias já são bastante utilizadas no manejo das lavouras. No Brasil, apesar do reconhecimento cada vez maior da importância das abelhas, especialistas avaliam que produtores rurais ainda são resistentes a incluir os insetos no trato de suas plantações.

O aluguel de colmeias pode ser uma alternativa. A um custo de R$ 60,00 a R$ 100,00, com quatro caixas de cerca de 50 mil abelhas cada uma, é possível polinizar um hectare de lavoura e melhorar a produtividade. Mesmo em culturas como soja e café, que não dependem tanto da polinização, há custo-benefício para o agricultor.

“Uma das grandes dificuldades de colocar em prática o serviço de polinização dos cultivos que não tem tanta dependência das abelhas está relacionada à resistência do produtor em não querer mudar as condições do seu manejo, imaginando que elas não farão diferença. Só que a mudança pode ser muito positiva, principalmente no consumo de defensivos”, explica o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Fernando Kenzer.

Kenzer é especialista em abelhas e monitor do projeto Kombee, criado para promover a educação ambiental e a utilização de abelhas sem ferrão. Nesta semana, ele expôs a iniciativa pela primeira vez na Tecnoshow Comigo, feira de tecnologia agrícolas que terminou nesta sexta-feira (31/3), em Rio Verde (GO).

“O produtor pode ter uma diminuição de gastos, usando menos insumo, tendo controle biológico de pragas e colocando as abelhas como aliadas da produção”, acrescenta.

Com as abelhas, além de favorecer o equilíbrio do ecossistema, produtores tornam o manejo mais sustentável. A soja, por exemplo, pode servir como pasto apícola com o aluguel de colmeias no período da florada. Foi o que aconteceu em uma propriedade rural atendida pelo projeto Guardião das Abelhas.

“Aplicamos abelhas em 25 hectares de uma propriedade com mil hectares de soja. Foram apenas duas colmeias e já vemos melhores resultados. Embora a experiência esteja em fase de teste, cada colmeia resultou em um ganho de oito sacas a mais do que as áreas sem polinização”, detalha o apicultor e criador da iniciativa, Fernando Augusto.

Calendário agrícola

O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente destaca que, dependendo do cultivo, o agricultor pode determinar o calendário para as abelhas ‘entrarem em campo’. O cronograma pode ser desenhado com ajuda de apicultores, para os insetos começarem a trabalhar de dez a sete dias anteriores à florada principal, que acontece na etapa do cultivo.

Fiéis adeptos da técnica, pequenos e médios produtores de frutas – culturas que dependem mais da polinização do que lavouras de commodities agrícolas – são exemplos empíricos e acadêmicos do chamado Sistema de Polinização Assistida, conta Kenzer.

“Maçã e melão são altamente dependentes das abelhas e, embora já utilizem a polinização há muito tempo, devido às questões de sustentabilidade, estão sendo divulgados mais intensamente. O sistema pode ser aplicado tanto em pequena escala, que é o produtor familiar, quanto em larga escala”, explica.

Segundo o biólogo, estudos apontam que, quanto mais espécies e maior o número de colmeias aplicadas na lavoura, melhor a polinização. Ele relembra que as abelhas são agentes de biodiversidade. E o Brasil tem como diferencial a quantidade de espécies.

Segundo pesquisa publicada em 2022 pelo Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose), estima-se que a polinização realizada por abelhas, moscas e morcegos gere um valor econômico de R$ 43 bilhões por ano na agricultura brasileira.

Nos Estados Unidos, as abelhas silvestres mantém grande parte da produção de vegetais e frutas, além de serem fundamentais para os resultados positivos das plantações de amêndoas da Califórnia. Lá, a agricultura não pode pensar em ficar sem abelhas. Por isso, em janeiro deste ano, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) aprovou uma licença condicional para o uso da primeira vacina para abelhas do mundo.

O objetivo é evitar mortes causadas pela Loque Americana, uma doença bacteriana conhecida por enfraquecer as colônias. A vacina pode servir como um “avanço na proteção” desses insetor, informou a CEO da Dalan Animal Health, Annette Kleiser, em nota divulgada à época. A queda das populações de abelhas no inverno foi um alerta classificado como Distúrbio do Colapso das Colônias ou CCD (em inglês, Colony Colapse Disorder), preocupando órgãos agrícolas.

Cooperação

Em 2022, a Embrapa e a Basf firmaram um acordo de cooperação técnica e financeira para validar um modelo de boas práticas agrícolas e apícolas a ser aplicado nesta safra. Com duração estimada em três anos (2022-2025), a iniciativa tem o objetivo de impulsionar a parceria entre sojicultores e apicultores, a partir de ações conjuntas em três regiões: Paraná (Maringá), Mato Grosso do Sul (Dourados) e Rio Grande do Sul (São Gabriel).

As instituições pretendem comprovar que os espaços de cultivo integrados com as abelhas gerem benefícios aos dois setores e um protocolo de validação da prática por meio de um modelo tecnológico.

Foto: Globo Rural

 

Fonte: Globo Rural