Alho nacional bate importado na mesa do brasileiro pela primeira vez em 5 anos

17 de janeiro de 2022

O ano de 2021 marca uma virada no consumo de um dos temperos mais consumidos no país: pela primeira vez em cinco anos, o brasileiro comeu mais alho nacional do que importado. Segundo o boletim de dezembro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as importações caíram 35% no ano passado na comparação com 2020, somando 125,7 mil toneladas, enquanto a produção brasileira saltou de 132 mil toneladas para 168,1 mil. Além disso, o alho chinês que dominou o mercado nos últimos anos perdeu espaço para o argentino: 76 mil toneladas (o equivalente a 60,5%) vieram do país vizinho e apenas 44,7 mil toneladas tiveram a China como origem, ante as 193 mil toneladas de 2020.

“Batemos recorde de produção em 2021 graças ao investimento crescente em tecnologia que nos fez pular da média de 14 toneladas por hectare para 18 toneladas em poucos anos”, diz Rafael Jorge Corsino, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Alho (Anapa). Os números de safra da associação superam os da Conab: produção de 240 mil toneladas (24 mil caixas de 10 kg), aumento de 20% em relação a 2020, para um consumo estimado de 360 mil toneladas.

Corsino diz que a Argentina bateu a China nos embarques do produto para o Brasil no ano passado por causa das dificuldades logísticas e da falta de contêineres que tornaram o alho chinês muito caro. Maior produtor mundial, com 21,2 milhões de toneladas, a China vinha elevando suas exportações para o Brasil, apesar da renovação da taxa antidumping de US$ 0,78 por quilo. Segundo Corsino, a Anapa ainda luta na Justiça para derrubar liminares que garantem a duas empresas importadoras o não pagamento da tarifa.

A associação de produtores também promove campanhas de marketing em supermercados e nas redes sociais para ressaltar a qualidade do alho roxo brasileiro, que é mais pesado, tem mais dentes por cabeça e sabor mais forte e ácido, diante do alho chinês branco (mais leve, menos dentes por cabeça e de sabor mais doce). Em dezembro do ano passado, ao lado da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), lançou a campanha Brasil Temperado, que contou com a participação em vídeo da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina.

Nova safra

Para a safra que começa a ser plantada no final de fevereiro, a projeção da Anapa é de novo crescimento de 20% na produção e aumento da área plantada de 16 mil hectares para 19 mil hectares, outro recorde. Na importação, a Argentina ainda deve liderar neste ano porque a crise logística permanece sem solução a curto prazo. Corsino estima que a produção brasileira nos próximos anos pode chegar perto da autossuficiência, com 280 mil toneladas, mas ressalta que o setor não visa eliminar a importação.

O Brasil tem cerca de 5 mil agricultores familiares na produção de alho e mais 1,7 mil pequenos, médios e grandes produtores concentrados em Minas Gerais (líder do ranking), Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Juntos, os quatro Estados respondem por 92% da produção nacional.

Corsino, que planta 150 hectares em Cristalina (GO), diz que vale a pena ser produtor de alho, desde que o agricultor invista em um pacote tecnológico que inclui as sementes livres de vírus, nutrição da planta, irrigação e manejo fitossanitário, entre outros. A implantação de um hectare custou cerca de R$ 15 mil em 2020 e deve subir para R$ 18 mil neste ano.

Foto: Pixabay

 

Fonte: Globo Rural