Agropecuária respondeu por 25% das emissões de gases do Brasil em 2021

3 de novembro de 2022

Prestes a começar a Conferência do Clima (COP 27), no Egito, um levantamento divulgado pelo Observatório do Clima apontou aumento de 12,2% nas emissões de gases de efeito estufa do Brasil, em 2021. De acordo com o SEEG, Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, foram emitidos 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente.

Enquanto as mudanças no uso da terra são responsáveis por 49% destas emissões, a agropecuária tem 25% do total. E, no ano passado, também registrou as maiores emissões da série histórica, atingindo 601 milhões de toneladas de CO2e, com aumento expressivo de 3,8% em relação a 2020. “Uma taxa de aumento que não era vista desde meados de 2004”, segundo Renata Potenza, coordenadora de Projetos da Iniciativa Clima e Cadeias Agropecuárias no Imaflora.

De acordo com os responsáveis pelo levantamento, a pecuária – que chama a atenção pela emissões de metano – liderou as emissões provenientes da atividade agropecuária, com 79,4% do total. Nas contas do Observatório do Clima, como o rebanho brasileiro cresceu 3,1% no ano passado, isto contribuiu para o aumento de quase 4% nas emissões de metano e dióxido de carbono do País.

“Em 2021, atingimos o maior rebanho nacional, com quase 224 milhões de cabeças de animais, cujo rebanho é jovem, com menos abate e mais animais no campo”, pontua Renata. Nos últimos anos, ela complementa, os poluentes emitidos pela agropecuária se mantinham em crescimento de 0,5% a 1%.

O segundo motivo para que a agropecuária tivesse aumento expressivo na participação da emissão de gases de efeito estufa foi expansão de área agrícola, quase 3 milhões de hectares entre 2020 e 2021. “Isso fez com que houvesse o maior consumo de fertilizantes sintéticos e calcário da história”, diz Renata. A alta no consumo dos nitrogenados e calcário foi de 13,8% e 20%, respectivamente.

Desmatamento

Pelo mapeamento do SEEG, a maior alta de emissões de gases poluentes foi verificada em 2003, quando o país atingiu recorde histórico puxado pelo desmatamento na Amazônia. Apesar de quase 20 anos depois, o desmatamento segue sendo um dos principais responsáveis pela elevação da emissão brasileira.

Impulsionadas pelo terceiro ano seguido de crescimento da área desmatada na Amazônia e demais biomas, as emissões por mudança de uso da terra e florestas tiveram alta de 18,5%. A destruição dos biomas brasileiros emitiu 1,19 bilhão de toneladas brutas no ano passado.

“O Brasil, em 2021, estourou a meta de redução de emissões para 2020. O máximo seria 2.068 milhões (tCO2e) e a gente passou bastante disso, quase 10%, com 2.304 milhões (tCO2e)”, disse Tasso Azevedo, coordenador do SEEG. Ele e uma delegação de atores da sociedade civil, governos e iniciativa privada se preparam para o início da COP 27, conferência mundial que debaterá as mudanças climáticas no Egito, a partir de 6 de novembro.

“O mais preocupante é que, mesmo com os compromissos assumidos pelo país no Acordo de Paris, no Compromisso Global do Metano e no Plano ABC, em 2021, tivemos o recorde de emissões para a pecuária e a agricultura do Brasil”, salienta Renata Potenza, coordenadora do Imaflora. “Considerando as metas de redução de emissões assumidas na NDC do país para 2025 e 2030, o patamar atual torna o alcance dessas metas cada vez mais distante.”

Energia: maior alta em 50 anos

É devido, principalmente, à falta de chuva que o setor energético tem emitido mais gases poluentes. O setor de energia emitiu 435 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2021, a maior alta de emissões em quase 50 anos no setor.

A crise hídrica de 2021, decorrente da pior estiagem em 90 anos na região Centro-Sul, diminuiu a parcela de energias renováveis na matriz elétrica nacional, quando foi preciso acionar as termelétricas. Enquanto o consumo de eletricidade aumentou 4%, as emissões por geração de eletricidade cresceram 46%.

“O Brasil vem aumentando sua porcentagem de energia renovável, onde se encaixa o etanol, biodiesel, eólicas, mas no ano passado diminuiu. Muito pela crise climática, em que as chuvas foram reduzidas, e a hidrelétrica produziu menos”, explica Felipe Barcellos, analista de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA).

Outro fator, também decorrente da seca, foi a queda na safra de cana-de-açúcar no Sudeste, que levou a uma alta do preço do etanol — reduzindo, consequentemente, a participação do biocombustível nos transportes. “Ano passado, o preço foi menos em conta em relação à gasolina, e por conta disso as emissões de combustível fóssil aumentaram. Mas é importante diminuir o consumo destes combustíveis em geral”, observa.

Para ele, as fontes energéticas precisam ser mais exploradas, como o próprio etanol e o hidrogênio verde, por isso avalia que “o Brasil tem grande potencial em energias renováveis, mas é possível fazer mais”. E complementa: “Também não adianta aumentar a energia renovável, se não reduzir a parcela absoluta de uso de combustíveis fósseis”.

Felipe ainda complementa que a Covid-19 foi um fator para o acréscimo das emissões de gases poluentes provenientes do setor de energia em 2021. “Proporcionalmente, as emissões explodiram no ano passado pelo fato de o consumo ter caído em 2020, por causa da Covid”, afirma.

Foto: Emiliano Capozoli/Ed. Globo

Fonte: Globo Rural