Abelhas no campo podem aumentar produtividade da soja em até 13%

26 de setembro de 2022

A relação harmônica entre insetos polinizadores e agricultura favorece o equilíbrio do ecossistema e a produtividade dos cultivos. A florada da soja, por exemplo, pode servir como pasto apícola para os criadores de abelhas, especialmente de Apis mellifera (a abelha africanizada), em períodos de pouca disponibilidade de alimento.

“Podemos afirmar que, sob condições adequadas de visitação, a produtividade de soja pode ser incrementada em cerca de 13% pelo processo de polinização propiciado pela visitação das abelhas”, destaca o pesquisador Décio Gazzoni, da Embrapa Soja, em informa divulgado pela instituição.

Para investigar o efeito da polinização por abelhas na produtividade da lavoura, três experimentos foram instalados no campo da Embrapa Soja, em Londrina (PR), nas safras de 2017/2018 a 2019/2020. Foram utilizados três tratamentos: o primeiro possibilitava o livre acesso de abelhas à cultura da soja, o segundo consistiu na introdução de uma colmeia de Apis mellifera no interior de uma parcela de soja engaiolada e o terceiro tratamento mantinha outra parcela de soja engaiolada sem o acesso de abelhas ou qualquer outro polinizador.

De acordo com Gazzoni, a visitação de abelhas na floração da soja foi monitorada, durante todo o período de florescimento, com contagens de abelhas às 9 horas, às 10 horas e às 11 horas.

“Pudemos observar que o maior número de abelhas foi observado às 11 horas, o que é um indicativo importante para se planejar as pulverizações de agroquímicos”, explica. “Nos três anos do estudo, o incremento médio da produtividade da soja, nas parcelas engaioladas com uma colônia de abelhas, foi de 639 quilos por hectare, isto é, 12,97%, sendo de 274 kg/ha (5,58%) nas parcelas abertas, sem gaiolas, quando comparadas com as parcelas engaioladas, que não permitiam o acesso de polinizadores”, relata.

Cooperação

A intenção agora é ampliar a pesquisa. Um acordo de cooperação técnica e financeira firmado entre a Embrapa e a Basf pretende validar um modelo tecnológico a partir da safra 2022/2023, pautado em boas práticas agrícolas e apícolas.

O objetivo do projeto, que tem duração de três anos (2022-2025), é impulsionar a convivência harmônica entre sojicultores e apicultores, a partir de ações conjuntas em três regiões importantes para a produção de soja: Paraná (Maringá), Mato Grosso do Sul (Dourados) e Rio Grande do Sul (São Gabriel). A partir da validação de um protocolo de boas práticas agrícolas, as instituições pretendem comprovar que o desenvolvimento das atividades em espaços integrados pode ser benéfico para os dois setores.

“Para a Embrapa, é fundamental propor ações em parceria, que promovam a boa convivência e estimulem o respeito às diferentes atividades de campo, com foco na sustentabilidade dos sistemas produtivos. No caso específico do relacionamento entre sojicultor e apicultor, é importante a valorização da responsabilidade mútua, o que significa respeitar os limites além de suas áreas de cultivo ou propriedades”, destaca Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja (PR), segundo o informe da empresa.

De acordo com Maurício do Carmo Fernandes, gerente de Stewardship e Sustentabilidade da Divisão de Soluções para Agricultura da Basf, a empresa estabeleceu como meta aumentar em 7% ao ano a parcela de soluções que contribuem significativamente com a sustentabilidade, além de continuar fortalecendo as ações que promovem o uso correto e seguro das soluções com as boas práticas agrícolas.

“Acreditamos que investir nessa iniciativa vai contribuir para o legado da agricultura. Todos podem sair ganhando nessa relação da produção de soja e de mel. A Basf apoia e promove esse trabalho conjunto, e é por isso que nos unimos à Embrapa nesse desafio. Afinal, estamos em busca do equilíbrio ideal entre a produção agrícola e o meio ambiente”, afirma Fernandes, ainda conforme o divulgado pela Embrapa.

Para o acompanhamento das atividades dessa iniciativa, Gazzoni explica que será criado um protocolo de Boas Práticas Agrícolas e Apícolas, cuja função é orientar as ações dos grupos de trabalho de sojicultores e apicultores participantes. Depois de validados, os resultados irão compor uma cartilha contendo um conjunto de práticas sustentáveis para a produção de soja com baixo impacto na criação de abelhas.

A cartilha também conterá boas práticas apícolas para instalação de apiários próximos às lavouras de soja. Outras estratégias de transferência de tecnologias e comunicação serão adotadas, ao longo do projeto, como a produção de conteúdo em vídeo e materiais impressos.

Foto: Embrapa Soja

 

Fonte: Globo Rural